Inspector da Judiciária acusado de roubar 200 mil euros começa a ser julgado

Desvio de 200 mil euros terá acontecido durante buscas na operação Rota do Atlântico. Polícia tinha dívidas.

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Suspeito pertencia à Unidade Nacional de Combate à Corrupção. fau fabio augusto

Um inspector da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Judiciária acusado de desviar 200 mil euros durante buscas a uma residência em Cascais, no âmbito da operação Rota do Atlântico, em que José Veiga é arguido, começa a ser julgado na segunda-feira.

Segundo o despacho de acusação do Ministério Público tudo aconteceu a 3 de Fevereiro do ano passado, quando três inspectores, entre eles o arguido, faziam buscas numa vivenda na Quinta da Marinha, em Cascais, habitualmente utilizada pelo ministro das Finanças da República do Congo, Gilbert Ondongo, propriedade da sociedade West Side World.

Na cave da habitação estavam dois cofres com "dezenas de maços de notas": um com três milhões de euros e outro com três milhões de dólares, dinheiro que as autoridades suspeitam estar relacionado com corrupção no comércio internacional, branqueamento de capitais e fraude fiscal.

No momento em que os outros dois colegas ficaram a acondicionar num saco as notas de dólares, o inspector Emanuel Briosa pegou num saco onde já tinham sido colocados os maços de euros e levou-o para o andar de cima, para uma sala no rés-do-chão. "Enquanto trazia consigo o saco com os maços de notas de euros retirou pelo menos um maço com mil notas de 200 euros, no valor global de 200 mil euros. Apoderou-se dessa quantia que nessa altura subtraiu do saco de notas apreendidas que transportava", diz o Ministério Público.

Segundo a acusação, Emanuel Briosa levou logo o dinheiro para o veículo da brigada da Polícia Judiciária em que se deslocavam, escondendo-o dentro de uma mochila sua que estava na bagageira. Gastou parte dos 200 mil euros “em diversas despesas em bens e serviços de diversa natureza", incompatíveis com o seu padrão de vida, diz o Ministério Público.

No espaço de cinco meses “alterou o seu estilo de vida, designadamente com deslocações frequentes a restaurantes, estadias em hotéis e viagens". A acusação refere que também comprou perfumes, uma televisão, prendas e pagou facturas de água, luz e electricidade. Uma das despesas diz respeito ao pagamento parcial do trespasse de um restaurante. "Gastou, pelo menos, 20 mil euros como parte do preço do trespasse do estabelecimento comercial O Rei dos Petiscos, situado em Santa Marta do Pinhal, Corroios, que explorou em conjunto com a mulher a partir de julho de 2016", descreve a acusação.

Desde 2013 que Emanuel Briosa "assumiu a qualidade de réu em processos de execução que vieram a dar origem a penhoras de parte do seu vencimento, tendo a última delas tido início em Maio de 2016", devido a uma dívida de quase 6900 euros. Tinha ainda uma dívida de mais de 14 mil euros a um banco e de 540 euros às Finanças.

O inspector da Unidade Nacional de Combate à Corrupção está acusado de peculato, encontrando-se em prisão preventiva na cadeia de Évora desde 26 de Julho de 2016. O Ministério Público pede a pena acessória de proibição de exercício de funções pois, segundo a acusação, Emanuel Briosa revelou "indignidade para o exercício" do cargo. O início do julgamento está agendado para a manhã de segunda-feira, em Cascais. 

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