REN procura novo fôlego com investimento no Chile

Empresa de Rodrigo Costa comprou 42,5% de um gasoduto com que espera contrariar os efeitos da taxa extraordinária da energia e de menores remunerações dos activos regulados.

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Apesar da estreia internacional, a empresa presidida por Rodrigo Costa diz que "a prioridade" continua a ser Portugal Miguel Manso

Foi numa das “economias mais interessantes da América do Sul”, o Chile, que a REN conseguiu finalmente concretizar a oportunidade de internacionalização que há muito estava nos seus planos e que por mais de uma vez lhe escapou em geografias como o Peru ou a Colômbia. No início de Fevereiro, a empresa liderada por Rodrigo Costa anunciou a compra de 42,5% do capital do maior gasoduto chileno, a Electrogas, por cerca de 170 milhões de euros.

Ao PÚBLICO, a empresa explicou que este activo entrou no seu radar em 2016, “fruto do trabalho” da “equipa de desenvolvimento de negócios e do reconhecimento da REN por parte do vendedor”, a Enel Generación Chile. “Sem ser um activo regulado [ou seja, sem ter rendas fixas], tem a sua capacidade contratada a um prazo médio de 15 anos”, disse fonte da REN. É nesta previsibilidade de receita (numa economia que vem crescendo desde 2011 a uma taxa anual média de 3,9%, onde são expectáveis “maiores consumos de energia” e em que o enquadramento regulatório “é claro” e “previsível”) que reside a atractividade do investimento.

Há grande “visibilidade quanto à geração de cash flow graças aos contratos de longo prazo” da Electrogas, que possuem cláusulas do tipo take or pay (em que os clientes ficam obrigados a comprar volumes pré-definidos de gás ou a compensar a empresa), afirmava a REN numa apresentação de Dezembro, em que explicava o negócio aos seus investidores e em que garantia que o Chile “terá efeito positivo no resultado líquido”. Nos últimos anos, as contas da empresa controlada pela chinesa State Grid têm sido penalizadas por factores como a contribuição extraordinária sobre o sector energético e as decisões regulatórias que têm reduzido as remunerações dos seus activos regulados e travado novos investimentos em redes.

Efeitos que poderão ser compensados por este primeiro investimento internacional, que cumpre o que estava previsto no plano estratégico até 2018. São 165,5 quilómetros de “tubo” a rasgar a zona central do Chile e a ligar a capital, Santiago, ao terminal de regaseificação de gás natural de Quintero e ao porto de Valparaíso, um dos principais do país. É através dele que o gás natural é encaminhado para centrais de produção de electricidade, distribuidoras de gás e clientes industriais. Segundo a informação enviada ao PÚBLICO, nesta lista estão grandes produtoras como a Endesa, a AES Gener e a Colbún, as distribuidoras Metrogas e GasValpo, assim como a ENAP, companhia estatal de petróleo e gás, que é, tal como a Colbún, parceira da REN no gasoduto. Enquanto a ENAP tem 15% do capital da Electrogas, a Colbún, que também é privada, tem, à semelhança da empresa portuguesa, 42,5%.

“É muito importante num processo de internacionalização ter parceiros locais, pelo que valorizamos a relação”, diz a REN, que no entanto considera “prematuro falar da forma como essas relações podem evoluir” relativamente a outro tipo de parcerias. Certo é que a empresa portuguesa entende que os seus 42,5% na Electrogas (que além do gasoduto, também possui um oleoduto de 20 quilómetros) lhe darão “influência relevante” sobre a estratégia da companhia. No fundo, trata-se de um activo “muito semelhante” às infra-estruturas de gás natural que a empresa já gere em Portugal (o gasoduto de que recebe gás da Argélia via Espanha por Campo Maior e o terminal de gás natural liquefeito de Sines), sublinhou a REN, afirmando também que, apesar desta estreia internacional, "a prioridade continua a ser Portugal".

É um “activo chave” no sector do gás natural chileno por ser o gasoduto que liga a capital ao único terminal de regaseificação de gás natural da região centro e que, por isso, fica em posição de beneficiar da importância crescente do gás natural no país: “Desde 2010, a maior distribuidora de gás de Santiago tem registado um crescimento anual de 5% nos volumes distribuídos”, notava a empresa na apresentação aos investidores.

Assumindo que o seu “racional de investimento é, de forma consciente, muito restritivo e conservador”, a empresa adiantou ao PÚBLICO que, para já, não estão na mesa outros investimentos internacionais.

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