Daesh mostra vídeo em que Amri, morto em Milão, reivindica ataque em Berlim

O tunisino de 24 anos jura lealdade ao grupo radical e diz querer vingar os muçulmanos vítimas de bombardeamentos aéreos, numa gravação feita a 1,5 km da chancelaria alemã.

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Imagem do vídeo morto num controlo policial em Milão AAMAQ/AFP
Anis Amri passou quatro anos numa prisão italiana, especula-se que tenha sido radicalizado aí
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Anis Amri passou quatro anos numa prisão italiana, especula-se que tenha sido radicalizado aí Reuters/STRINGER

O Daesh confirma que o suspeito tunisino abatido esta madrugada em Milão foi o autor do ataque ao mercado de Natal em Berlim que vitimou 12 pessoas. A confirmação foi feita num comunciado divulgado pela Amaq, agência do autoproclamado Estado Islâmico, que já tinha reivindicado o ataque.

“O executor do ataque em Berlim levou a cabo outro ataque à polícia italiana, em Milão, e foi morto a tiro”, escreveu a Amaq. Anis Amri foi abatido pela polícia italiana durante uma operação policial rotineira que achou suspeito o comportamento do tunisino. As autoridades italianas não tinham qualquer informação de que o jovem de 24 anos estaria em Milão.

De acordo com o jornal La Repubblica, Amri terá dito aos polícias na fronteira que não tinha documentos mas que era da Calabria. No entanto, ao ser pressionado para mostrar documentos, e para mostrar o conteúdo da sua mochila, meteu a mão no saco e tirou uma arma, disparando contra um dos agentes. O outro respondeu ao fogo e o tunisino caiu ao chão, baleado nas costas, mas não terá morrido logo.

Anis Amri, que era alvo de um mandado de detenção a nível europeu, por causa do atentado de Berlim, atravessou vários países. Tentou cruzar a fronteira a pé, e tinha acabado de chegar, de comboio, de França, descreve o La Repubblica.

À espera de alguém?

Não trazia telemóveis, nem documentos, nem grandes bens dentro da mochila, apenas algumas centenas de euros. Estaria a planear encontrar-se com alguém, interrogam-se as autoridades italianas?

Logo após ter confirmado que Amri seria o autor do ataque de Berlim, a Amaq revelou um vídeo onde o tunisino jura a sua lealdade ao Daesh, mostra o Guardian.

O vídeo foi gravado a dez minutos de distância de uma mesquita de Berlim conhecida como "mesquita do ISIS" (Daesh), diz no Twitter Peter Neumann, investigador do King's College de Londres, especialista em radicalização. Na verdade, diz, "fica a menos de 1,5 km da chancelaria", a sede do Governo alemão.

No seu "testamento" de pouco mais de três minutos Amri diz que quer vingar os muçulmanos vítimas de bombardemanetos áreos, e faz um apelo a ataques contra os "cruzados", relata a AFP. 

Sabe-se que Anis Amri passou quatro anos numa prisão italiana, o que levou a imprensa a especular se seria mais um caso de uma radicalização de um jovem num serviço prisional, visto que as prisões são consideradas terreno fértil para o recrutamento de redes jihadistas.

Durante esta semana, as autoridades alemãs contactaram a família do tunisino, que vive em Oueslatia, Tunísia, que se mostrou surpreendida pelas supostas ligações de Amri ao Daesh, mesmo que não tivessem muitas informações sobre a vida que o irmão fazia na Europa.

Anis Amnir foi para Lampedusa em 2011, após ter sido condenado por roubo na Tunísia. Já em Itália cometeu uma série de crimes e foi condenado por vandalismo, ameaças e roubo, tendo estado em várias prisões na Sicília e mais tarde, já em 2015, num centro de detenção onde ficaria a aguardar deportação.

Vários alertas

A Tunísia durante muito tempo recusou-se a reconhecer Amri como um cidadão tunisino, por isso ele não foi expulso de Itália, o que lhe abriu portas para conseguir chegar à Alemanha. Já neste país, o tunisino viu o seu pedido de asilo ser recusado, tendo sido desde logo reconhecido pelas autoridades como um sujeito potencialmente perigoso, mas, mais uma vez por falta de documentos, permaneceu na Alemanha.

Durante a sua estadia na Alemanha já estava sob vigilância da polícia por ter alegadas ligações a um líder religioso salafista (o salafismo é uma corrente que autoriza os crentes a fazerem a sua própria interpretação dos textos do Corão), que acabou por ser detido em Novembro, em conjunto com quatro cúmplices. O pregador iraquiano de 32 anos Ahmad Abdulaziz Abdullah, também conhecido como Abu Walaa, é acusado de ter montado uma rede de recrutamento em nome do grupo terrorista islâmico Daesh. 

Segundo a revista alemã Der Spiegel, os serviços secretos vieram a descobrir, através de escutas, que Amri chegou a oferecer-se a responsáveis jihadistas para cometer um atentado suicida. Mas os dados recolhidos pela investigação acabariam por ser considerados demasiado vagos.

Mas os avisos parecem ter-se multiplicado. O Le Monde Afrique diz que os serviços secretos marroquinos também terão avisado dos seus congéneres alemães sobre Anis Amri, que consideraram um fervoroso apoiante do Daesh. 

Mesmo depois da morte do principal suspeito, a Alemanha continua em estado de alerta. Em conferência de imprensa, o ministro do Interior alemão, Thomas De Maizière, veio confirmar que as investigações continuam a decorrer. De Maizière revela ainda que o “risco terrorista continua elevado”, cita o Guardian

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