Tunisino suspeito do ataque de Berlim terá sido radicalizado na prisão em Itália

Autoridades alemãs partem do princípio de que foi Anis Amri, 23 anos, o autor do atentado contra um mercado de Natal em Berlim.

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AFP/CLEMENS BILAN

As impressões digitais do tunisino que é procurado pela polícia alemã foram encontradas em vários locais do camião que foi usado para o atentado de segunda-feira num mercado de Natal em Berlim, mas o suspeito de 23 anos continuava a iludir a polícia.

Sabe-se ainda que Anis Amri passou quatro anos numa prisão italiana, o que levava a imprensa do país a especular se seria mais um caso de uma radicalização de um jovem num serviço prisional – as prisões são consideradas terreno fértil para o recrutamento de redes jihadistas, como aconteceu no caso do Charlie Hebdo ou do Museu Judaico em Bruxelas, e países como França ou Estados Unidos têm programas em curso para tentar minorar este fenómeno.

O atentado de Berlim deixou doze mortos e dezenas de feridos, dos quais doze estão ainda em estado grave.

“Há uma grande probabilidade” de que o suspeito tunisino ser o autor do ataque, disse o ministro do Interior, Thomas de Maizière, numa conferência de imprensa após uma visita à polícia criminal, dizendo que há ainda “provas adicionais” para além da presença das impressões digitais. Mais tarde, a procuradoria-geral anuncia que parte do princípio de que ele é o autor do atentado, mencionando as impressões digitais encontradas no volante.

Angela Merkel, ao lado do ministro, declarou esperar que o suspeito forre preso em breve – a polícia continua à procura, e depois de na véspera ter tentando encontrá-lo em dois apartamentos em Kreuzberg, e visitado a família do suspeito na Tunísia, o dia de quinta-feira foi marcado pelas detenções de quatro contactos de Amri em Düsseldorf e uma revista a um autocarro em Heilbronn, já em Baden-Würtemberg, no Sul.

“Estou muito orgulhosa do modo calmo como as pessoas reagiram”, declarou ainda a chanceler, de negro como nos últimos dias. “Estou convencida de que superaremos a prova em que nos encontramos.”

O mercado de Natal na praça perto da igreja Kaiser Willeheim, uma semi-ruína que mantém a torre sineira como ficou depois de ter sido bombardeada, em lembrança da II Guerra Mundial, reabriu esta quinta-feira, depois de ter algumas barreiras em cimento, e sem música. A vida na cidade não tem tido grandes alterações depois do ataque, mesmo com a polícia a fazer buscas.

Depois de terem falado com as autoridades alemãs, os familiares do tunisino, que vivem em Oueslatia (centro), fizeram declarações à imprensa, sobretudo incrédulas com a possibilidade de Anis, o irmão mais novo, ter qualquer ligação islamista. Ainda assim, admitiram não saber muito sobre a vida do irmão na Europa. “Ele brincava connosco pelo Facebook. Nada mostrava que poderia estar radicalizado”, dizem.

O irmão Abdelkader disse que Anis partiu para Lampedusa em 2011 depois de ter sido condenado por roubo na Tunísia, e por motivos económicos. "Quando saiu da Tunísia, era uma pessoa normal. Bebia álcool e nem sequer rezava. Não tinha fé. O meu pai, o meu irmão e eu costumávamos rezar, mas ele não", contou outro irmão, Walid. “Ele partiu para fugir à miséria”, disse pelo seu lado o outro irmão. “Não tinha futuro na Tunísia e queria melhorar a situação financeira da família”.

Disse que era menor – o que não era já verdade – e foi transferido para uma escola, mas meses depois foi apanhado a tentar incendiar um edifício. Foi condenado por vandalismo, ameaças e roubo e preso. Cumpriu a sentença em várias prisões na Sicília e em Maio de 2015 foi enviado para um centro de detenção Caltanissetta, na Sicília, onde aguardaria deportação. “Mas a Tunísia não tinha qualquer intenção de recuperar um cidadão que já na sua terra natal tinha causado vários problemas”, comenta o diário italiano La Stampa.

O país não enviou os documentos necessários a tempo, e Anis conseguiu não ser expulso, seguindo para a Alemanha. Algo semelhante aconteceu também na Alemanha: o tunisino viu o seu pedido de asilo recusado, mas conseguiu manter-se no país por falta de documentos. Ironicamente, estes chegaram a Berlim na quinta-feira, dois dias depois do ataque. A polícia alemã também sabia que ele tinha ligações a um líder religioso salafista, e vigiou-o por achar que se preparava para comprar armas para um ataque. Mas nada aconteceu e a suspeita acabou por cair. 

Na última vez em que a família contactou Anis, há dez dias, ele disse que estava prestes a voltar para casa.

Se for culpado, os dois irmãos lançaram um apelo para que se entregue. “Seria uma desonra para a nossa família”. “Se estiver a ouvir isto, quero dizer-lhe para se render”, disse Abdelkader.

Os jornais tunisinos também faziam eco desta ideia de desonra que um cidadão do país possa ter cometido ataque: “Estes filhos malditos que fazem mal ao país”, titulava o jornal francófono La Presse. “É inútil ignorar. De cada vez que algum atentado terrorista é cometido no mundo, os tunisinos sutém a respiração”, comentava. Foi já um tunisino que levou a cabo o atentado de Nice, que fez 86 mortos em Julho, usando também um camião contra uma multidão.

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