PJ vigiava há mais de uma semana a casa onde Pedro Dias se entregou

Suspeito é interrogado esta quinta-feira no Tribunal da Guarda e será confrontado com os indícios da investigação.

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Casa onde Pedro João Dias se entregou foi alvo de buscas da PJ esta quarta-feira . Hugo Santos

A Polícia Judiciária estava a vigiar há mais de uma semana a casa onde Pedro João Dias se entregou, que pertence a uma amiga da família com 61 anos. Mas nesse período não detectou a entrada nem a saída do suspeito da habitação, localizada no centro de Arouca, ao lado do apartamento da avó de Pedro João Dias e a cerca de 150 metros da moradia dos pais. Fonte daquela polícia admite, por isso, que o suspeito já estivesse na casa quando esta começou a ser vigiada.

O advogado do suspeito, Rui Silva Leal, nega, contudo, que o cliente tenha permanecido naquela casa muitos dias seguidos.” Ele não estava ali sempre, estava no mato. Aliás, quando chegou [terça-feira] tinha a roupa toda rasgada. Só depois tomou banho e vestiu outra roupa”, conta Rui Silva Leal. O defensor confirma, no entanto, que a casa estava a ser vigiada pela PJ, admitindo ter passado pelos inspectores quando chegou à habitação terça-feira ao fim da tarde.

A dona da habitação, uma professora que foi esta quarta-feira constituída arguida pela PJ, recusou-se a responder às perguntas dos inspectores, optando pelo silêncio. Está indiciada pelo crime de favorecimento pessoal. A PJ realizou esta quarta-feira mais de dez buscas domiciliárias em Arouca. A casa da avó e da professora foram algumas das habitações visadas por esta operação, que já estava preparada há algum tempo. Há vários dias que a PJ tinha mandados de busca para várias casas de amigos e familiares do fugitivo, que a polícia acreditava estarem a ajudar o suspeito, de 44 anos, que esteve 28 dias em fuga.

Indiciado por dez crimes

Pedro João Dias está, segundo a PJ, indiciado por dez crimes: cinco de homicídio qualificado (três dos quais na forma tentada), dois crimes de sequestro, dois de roubo e um de furto. Neste momento, o inquérito que corre no Ministério do Público da Guarda, já tem pelo menos seis volumes. Na prova recolhida há depoimentos, perícias que detectaram impressões digitais do suspeito em carros e imagens de videovigilância. Será com esses elementos que Pedro João Dias será confrontado hoje quando for interrogado por um juiz a partir das 10h no Tribunal da Guarda.

É possível que a audição do suspeito comece na realidade mais tarde já que a defesa de Pedro Dias quer consultar o processo antes do arguido ser ouvido. Não é certo, contudo, que o juiz de instrução autorize essa consulta. Segundo o PÚBLICO apurou, o processo inclui múltiplos testemunhos, com destaque para o depoimento do militar da GNR que terá sido baleado pelo suspeito, mas que sobreviveu. O guarda terá identificado Pedro João Dias como o autor dos disparos que vitimaram mortalmente o colega de patrulha, com 29 anos, e que também o atingiram. “O militar apresenta uma versão coerente e lógica dos factos”, adiantou fonte da PJ.

Lança suspeitas à GNR

Numa entrevista à RTP3, antes de se entregar, Pedro João Dias disse-se inocente e lançou suspeitas sobre este militar. “O senhor agente da GNR terá certamente mais a dizer sobre o que me fizeram do que eu terei a dizer sobre isso”, afirmou, acusando igualmente os guardas da GNR de “atirarem a tudo e mais alguma coisa” durante as buscas. O porta-voz daquela força, Bruno Marques, garante que a “GNR estava a cumprir a sua missão”, tendo o Ministério da Administração Interna recusado comentar.

Esta história terá começado na madrugada de 11 de Outubro quando os dois militares numa acção de fiscalização perto da zona industrial de Aguiar da Beira, junto a um local onde está a ser construído um hotel, observaram um homem dentro de um carro. Foram identificá-lo e um deles acabou atingido a tiro sem razão aparente. O colega foi obrigado a colocá-lo na bagageira do carro de patrulha e a seguir no veículo mais uns quilómetros. Nesse local, onde foi deixada a viatura, o militar de 41 anos terá sido atingido por uma bala na cervical, tendo caído desfalecido no chão. Terá sido arrastado para uma vala e coberto com vegetação e pedras. Terá depois recuperado a consciência e conseguido caminhar até casa de um colega que deu o alerta. A polícia encontrou mais tarde, perto do local onde o carro da GNR foi deixado, um jovem casal baleado. A PJ acredita que foram atacados apenas para lhes roubarem o carro.

O homem de 29 anos morreu no local e a mulher de 26 ficou gravemente ferida, tendo sido transportada para o Hospital de Viseu. A unidade não dá informações sobre o seu estado de saúde, mas o PÚBLICO confirmou que a mesma se mantém internada com um prognóstico muito reservado. Além do homicídio do militar de 29 anos e de um civil da mesma idade e da tentativa de assassinato de uma mulher e do outro militar da GNR, a PJ considera que Pedro Dias teve igualmente a intenção de matar a mulher que terá sequestrado na fuga em Moldes. O suspeito terá amarrado a vítima e tapado a boca da mulher com uma batata.

Em Arouca as conversas desaguavam todas no caso de Pedro João Dias. O “gentleman” de Arouca, que “beija as mãos às senhoras”, entregou-se num momento captado em directo pela RTP3 e seguido com toda a atenção pelos habitantes da vila que adormeceram e acordaram com a notícia. “A primeira parte desta história está terminada. Agora vem a segunda e quem sabe o prolongamento e até vai aos penáltis”, sintetizou Luís de Matos, num restaurante no centro da Arouca. Todos parecem conhecer Pedro João Dias e muitos ainda lhe dão o benefício da dúvida. “Se ele é culpado tem de pagar, se não foi ele é preciso meter os culpados lá dentro. A verdade tem de vir ao de cima”, advogava Adelino Pedro, num café da vila. Já o companheiro de mesa, Carlos Almeida, é da opinião de que “a história ainda vai trazer muita gente à baila”.     

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