China lança última ronda de protestos antes de decisão sobre o Mar do Sul

Decisão no Tribunal Aribtral de Haia pode aumentar tensões militares nas águas disputadas. Filipinas pedem "cuidado" aos seus cidadãos na China.

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Protestos em Manila contra o controlo chinês sobre as águas no Mar do Sul. Romeo Ranoco/Reuters

O aparelho mediático chinês lançava esta terça-feira uma última vaga de editoriais e palavras de desafio contra os Estados Unidos e o Ocidente antes de uma decisão no Tribunal Arbitral de Haia quanto às disputas territoriais no Mar do Sul da China, culminando a campanha mediática dos últimos meses em Pequim, que insiste em dizer que não vai abrir mão sobre quase 85% das águas disputadas, independentemente da deliberação, que será anunciada também esta terça-feira.

“No passado, a China era fraca, mas agora tem vários meios à sua disposição”, alertava o Global Times, um tablóide do Partido Comunista, de pendor nacionalista. “Os provocadores estão condenados a falhar”, dizia em editorial, atirando as acusações para os Estados Unidos, que, apesar de não terem reivindicações no Mar do Sul da China e não terem sequer assinado a Convenção das Nações Unidas para a Lei do Mar — que Pequim assinou e deve servir como fundamento para a decisão desta terça-feira — são uns dos mais estridentes opositores às reclamações chinesas.

A decisão em Haia é vinculativa, mas o Tribunal Arbitral não tem meios de forçar a sua aplicação, como acontece com os países mais pequenos que reivindicam uma parte do Mar do Sul da China, como as Filipinas e o Vietname, por exemplo, cujo poderio militar não se compara ao de Pequim. Espera-se contudo que uma decisão contrária às ambições chinesas aumente as tensões militares nas águas disputadas, para onde os Estados Unidos enviam regularmente meios aéreos e marítimos como demonstrações de força contra as reivindicações de Pequim — tem, para além disso, um porta-aviões por perto.

O Mar do Sul da China é um território com grande importância geoestratégica: crê-se que é um terreno fértil em petróleo, tem importantes bolsas piscatórias e por lá passa todos os anos quase um terço de todo o comércio marítimo mundial. Daí que Pequim, como os Estados Unidos, pareça estar disposta a uma assertividade militar pouco habitual entre duas grandes potências.

“[A decisão] não alterará o facto de que a China tem direitos históricos e soberania sobre as ilhas e corais no Mar do Sul, nem abalará a sua dedicação em defender todos os centímetros delas”, lia-se esta terça-feira no diário em língua inglesa do Estado, o China Daily. Segundo este jornal, o caso em Haia, apresentado em 2013 pelas Filipinas, não passa “de uma farsa controlada por Washington”, que, escreve ainda, deve tomar em consideração lições como as do inquérito britânico sobre a intervenção do Reino Unido no Iraque, publicado há uma semana, no qual se diz que a guerra no Iraque “não era o último recurso”.

Em paralelo com os alertas nos meios de comunicação estatais — a agência oficial, a Xinhua, era a mais branda, publicando uma série de artigos contra a acção militar norte-americana e atacando decisões passadas em Haia —, decorriam protestos em Manila pelo fim do controlo chinês sobre as águas disputadas. A própria embaixada das Filipinas na China pedia "cuidado" aos seus cidadãos nesta terça-feira, antecipando possíveis ameaças ou acções de represália da parte das autoridades chinesas. Já o Ministério da Defesa do Japão dizia estar atento a qualquer movimentação militar chinesa em resposta à decisão em Haia. 

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