A violência dos adeptos russos transformou-se num incidente diplomático

Moscovo considera prisão de adeptos “inaceitável” e chama embaixador francês. Autoridades francesas garantem que estiveram envolvidos nos actos de violência em Marselha.

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Adeptos russos na bancada do Estádio de Marselha AFP

França e Rússia não estiveram frente a frente, no Euro 2016 mas estão em disputa no campo diplomático. Na manhã desta quarta-feira, Moscovo considerou “inaceitável” a prisão de 43 dos seus apoiantes, considerados um perigo para a ordem pública..

"A prisão de mais de quarenta adeptos russos num autocarro pela polícia é um incidente absolutamente inaceitável", criticou o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, numa intervenção na Duma, a câmara baixa do Parlamento.

Já na tarde desta quarta-feira foi revelado que o ministro dos Negócios Estrangeiros chamou o embaixador francês em Moscovo, Maurice Ripert, para debater a prisão dos adeptos russos.

Num comunicado do ministério é afirmado que “o sentimento anti-russo em torna da selecção russa no decorrer do Campeonato Europeu de futebol pode levar ao agravamento das relações franco-russas”.

A nota chama ainda à atenção da diplomacia francesa “para o caracter discriminatório” eu levou à prisão dos adeptos russos.

Estes adeptos foram detidos terça-feira em Mandelieu-la-Napoule (sudeste de França), a 170 km de Marselha, onde a violência explodiu sábado à margem do jogo Inglaterra-Rússia. Eles dirigiam-se para Lille (norte), onde a Rússia-Eslováquia jogaram nesta quarta-feira.

Os adeptos russos foram depois colocados sob custódia e transferidos para Marselha, onde decorre uma investigação aos actos violentos de sábado. Onze deles foram libertados e os outros permanecem detidos em Marselha por um máximo de 48 horas, segundo disse nesta quarta-feira uma fonte próxima à investigação.

“As autoridades francesas eram obrigadas informar as prisões à embaixada ou ao consulado geral em Marselha. Isso não foi feito", lamentou Lavrov, acrescentando que os diplomatas tiveram conhecimento das prisões por mensagens de adeptos russos nas redes sociais.
 
Algumas das mensagens foram colocada por Chpryguine Alexander, presidente da Associação dos adeptos russos e colaborador do deputado ultranacionalista Igor Lebedev, membro do partido de extrema direira LDPR.
 
Chpryguine multiplicou tweets irados na terça-feira para denunciar as detenções que considera “injustas”. A sua presença entre os russos presos não foi confirmada pelas autoridades francesas.
 
Este homem já foi visto na companhia do presidente russo Vladimir Putin e foi fotografado no passado fazendo uma saudação nazi na companhia de um músico de uma banda de rock de extrema-direita da Rússia, embora ele negue ser simpatizante nazista.

"Temos indicações suficientemente precisas sobre a participação de pelo menos alguns deles na violência inaceitável" que ocorreu em Marselha, afirmou o representante do Estado no departamento Alpes-Maritimes, Adolphe Colrat.
 
Hooligans russos, “altamente treinados”, segundo as autoridades francesas, estiveram envolvidos nos actos de violência em Marselha, embora ninguém tenha sido preso.

A França criticou de imediato a Rússia por ter permitido a saída do país em direcção a França de cidadãos identificados em actos de violência no passado.

"Todos aqueles que de uma forma ou de outra participaram na violência, nos combates nas ruas, estão perfeitamente identificados" insistiu nesta quarta-feira o porta-voz do governo Francês, Stéphane Le Foll.
O medo de novos incidentes envolvendo os hooligans no Euro permanece forte.

O jogo Rússia-Eslováquia desta quarta-feira (vitória da Eslováquia por 2-1), em Lille, teve lugar na véspera do Inglaterra-País de Gales, também sob vigilância especial em Lens, a cerca de trinta quilómetros de distância.

Um primeiro incidente teve lugar em Lille na terça-feira no final da tarde, motivando dez detenções, incluindo dois russos envolvidos numa briga, que podem ser expulsos do país..
 
Nas imagens dos incidentes de Marselha, foram vistos hooligans russos vestindo a camisa do Orel Açougues, um clube ligado ao Lokomotiv Moscovo, com uma inscrição clara: "Volta a França, foda-se o Euro 2016.”
"Vamos lutar ", disse à AFP um adepto russo nesta quarta-feira à saída da estação de comboios de Lille. "Talvez hoje, talvez amanhã , quem sabe? Mas não nos estádios para não prejudicar a equipa. Vai ser aqui, nas ruas”, ameaçou o mesmo adepto.

Os adeptos da Rússia, país anfitrião do Mundial de 2018, não têm direito neste momento a qualquer passo em falso. Na terça-feira a UEFA impôs uma suspensão com pena suspensa à selecção: será desclassificada em qualquer fase de torneio se se verificaram mais incidentes violentos por parte dos adeptos.

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