O exame de Português teve em Camões a parte mais complicada

Época de exames nacionais arrancou nesta quarta-feira com a prova de Português, na qual estavam inscritos mais de 75 mil alunos.

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Para os alunos da secundária José Falcão, em Coimbra, o exame não foi fácil Sérgio Azenha
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No exame saiu um excerto de “Felizmente Há Luar” e um soneto de Camões Sérgio Azenha
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“Mais ou menos.” É esta a resposta que Mariana Baptista, aluna do 12.º ano na Escola Secundária José Falcão, em Coimbra, dá quando lhe perguntam como correu o exame de Português.

Os dois textos de interpretação “não foram muito difíceis”. Saiu um excerto de Felizmente Há Luar e um soneto de Camões. Foi no poema de duas quadras e dois tercetos que Mariana sentiu mais dificuldades.

Depois de aproveitar a meia hora de tolerância prevista na duração da prova, Diogo Capela encontra a sua professora de Português no átrio da José Falcão e exclama que “não era assim tão fácil”. Após uma rápida revisão com a docente, explica ao PÚBLICO que, “comparado com outros anos, não era assim tão fácil”, mas esclarece que o grau de dificuldade dos testes apresentados pela professora ao longo do ano lectivo ajudaram a prepará-lo para a prova final.

Tal como a colega, Diogo aponta para a interpretação do soneto de Luís de Camões na hora de designar a parte mais complicada da prova que marcou o arranque da época de exames do 12.º ano. Camões lírico é matéria do 10.º, lembra Diogo, e talvez por isso não esteja tão presente.

Pouca gramática

Maria Regina Rocha, coadjuvante da prova na Escola Secundária José Falcão, entende que o exame de Português deste ano teve “um nível de exigência normal” e um “grau de dificuldade adequado aos alunos”. Se, no ano passado, o poema de Sophia de Mello Breyner causou alguma surpresa, a professora diz que essa situação não se repetiu este ano. “O excerto que saiu do Felizmente Há Luar é lido em aula” e o “soneto de Camões é representativo do programa”, explica a docente.

O Instituto de Avaliação Educativa (Iave) tinha assegurado que os exames deste ano não teriam surpresas, correspondendo ao nível de dificuldade dos anos anteriores. Pelas declarações de Maria Regina Rocha, a prova na qual estavam inscritos 75.564 alunos cumpriu esse desígnio.

A estratégia para um bom desempenho passava por “ter muita atenção à formulação das perguntas” nos grupos de interpretação, questões essas que “pedem relação” e cuja resposta “não está na superfície do texto”. Ou seja, “atenção ao pormenor” que exige a “capacidade de paráfrase”. As recomendações de atenção ao pormenor repetem-se quando se refere ao texto não literário seleccionado, este ano escrito pelo cientista Carlos Fiolhais.

Já nas questões referentes à gramática, Maria Regina Rocha entende que esta parte devia ter sido “mais diversificada”. A docente identifica duas perguntas sobre funções sintácticas numa matéria que é muito vasta. “Não saiu nada sobre modalidade, tempo, deixis”, enumera.

Primeiras dúvidas

Antes de começar a prova, e depois de um ténue alvoroço à entrada da escola José Falcão, as habituais instruções já dentro da sala: duas horas para fazer o exame a partir das 9h30, mais meia de tolerância; apenas é permitida a utilização de caneta ou esferográfica de tinta azul ou preta; não é permitida a consulta do dicionário e por aí em diante.

Às 11h30, os que dispensam a tolerância saem e logo procuram os professores para esclarecer as dúvidas mais imediatas. Seria complemento directo, indirecto ou ambos na escolha múltipla?

Tal como as restantes, a funcionária Isabel Pissarra ocupa-se da tarefa quase impossível de empurrar o pequeno ajuntamento de estudantes para fora do hall de entrada da escola. “Ainda há colegas a fazer o exame”, avisa, enquanto pede silêncio. A segunda leva de alunos, composta pela maioria, sai meia hora depois, ao segundo toque da campainha, e imita o primeiro grupo na procura de confirmação de respostas.

Para Diogo, o exame não lhe deve servir como prova de ingresso. Estudante da área de Ciências, ainda está indeciso entre Matemática e a área de Ciência Política, mas foi a exame com média de 18 e conta mantê-la. Já em termos de preparação para a prova, o aluno entende que o Português não requer um estudo “tão exaustivo”, como é o caso dos “exercícios intensivos” que precisa de fazer para o exame de Matemática do próximo dia 23, mas que é antes mais uma “questão de interpretação”.

Mariana conta ter positiva, numa disciplina cujas aulas não frequentou durante o ano lectivo e a que espera ser aprovada apenas com a nota do exame. Apesar de ser obrigatória para concluir o ensino secundário, esta prova não é determinante no seu acesso ao ensino superior, uma vez que esta aluna da área de Artes Visuais está a pensar optar por Arquitectura no Porto, curso que aceita Matemática, Geometria Descritiva ou Desenho como provas de ingresso.

Se uma das matérias que tradicionalmente mais dificuldades coloca aos estudantes é Fernando Pessoa ortónimo, Mariana Baptista tinha mais receio de que nesta edição dos exames saísse um excerto de Os Maias para interpretar. As explicações, nas quais se inscreveu no final do ano, ajudaram-na a compreender melhor Pessoa, mas considera que a longa obra de Eça de Queirós tem uma “história bastante complicada”.

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