Mensagens apontam para incêndio na cabina do avião da EgyptAir

Só depois de recuperados e analisados os maiores fragmentos do avião e as caixas negras será possível perceber o que aconteceu. Autoridades continuam a dizer que todos os cenários estão em aberto.

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Alguns dos destroços já encontrados pelas equipas de busca Exército do Egipto
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O avião descolou do aeroporto Charles de Gaulle na noite de quarta-feira Christian Hartmann/Reuters
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Enquanto as equipas de busca tentam localizar no fundo do mar Mediterrâneo as caixas negras do voo MS804, as informações já disponíveis parecem indicar que o avião da EgyptAir que se despenhou na madrugada de quinta-feira sofreu uma rápida sucessão de falhas, provavelmente provocadas por um incêndio na parte da frente do aparelho. Mas a pergunta que quase toda a gente quer ver respondida em menos tempo do que é tecnicamente possível permanece envolta em mistério – se houve mesmo um incêndio, foi provocado por problemas técnicos ou por uma explosão a bordo?

No momento em que o Airbus A320 da EgyptAir se preparava para sair da Grécia e entrar no Egipto, às 2h27 da madrugada de quinta-feira (1h27 em Portugal continental), os controladores de tráfego aéreo gregos tentaram contactar os pilotos e já não ouviram qualquer resposta.

Precisamente nessa altura, o sistema que envia mensagens em tempo real do avião para a companhia aérea disparava por todos os lados. Em menos de três minutos foram accionados sete alarmes – três às 2h26, um às 2h27, dois às 2h28 e mais dois às 2h29. Depois disso, as comunicações pararam e o avião desapareceu dos radares, acabando por mergulhar no mar Mediterrâneo, entre a Grécia e o Egipto, com 56 passageiros e dez tripulantes a bordo.

As mensagens de aviso foram transmitidas através do sistema ACARS, que permite o envio de informação do aparelho para os serviços de manutenção da companhia aérea – na maioria das vezes serve para que as falhas detectadas durante um voo sejam reparadas assim que o aparelho aterra.

De acordo com o relato do site Aviation Herald – já confirmado pelos investigadores franceses –, às 2h26 foi reportada uma falha no sistema que evita a acumulação de gelo numa das janelas da cabina, no lado direito; uma falha no sensor que diz ao co-piloto se a sua janela está aberta ou fechada; e foi detectado fumo numa das casas de banho. No minuto seguinte, foi detectado fumo no compartimento onde estão localizados os computadores do avião, por baixo da cabina, e logo a seguir mais uma falha numa janela da cabina, também no lado direito. Por fim, às 2h29, surgem os dois últimos alertas antes do fim de todas as comunicações: uma falha num dos dois canais do sistema de piloto automático e uma falha no controlador dos spoilers – os segmentos das asas que se levantam quando o avião aterra.

Na manhã de quinta-feira, as autoridades gregas disseram que o avião fez duas viragens bruscas pouco antes de ter iniciado uma descida vertiginosa de quase nove quilómetros antes de desaparecer dos radares – uma de 90 graus para a esquerda e outra de 360 graus para a direita.

Dúvidas mantêm-se

Apesar de tudo, nenhuma destas informações permite ter certezas sobre o que aconteceu, e muito menos sobre o que provocou o desastre. Alguns especialistas sublinham que, em teoria, o facto de os alarmes dispararem pode indicar uma falha no próprio sistema de alarmes, e não a existência de outros problemas; outros salientam que a viragem de 90 graus para a esquerda pode indicar que os pilotos estavam a tentar preparar uma descida controlada, e não que essa viragem tenha sido provocada por qualquer acção externa.

À excepção do ministro da Aviação Civil do Egipto, que tem insistido desde o primeiro momento na maior probabilidade de um atentado terrorista do que outra explicação qualquer, os responsáveis pela investigação e os governantes dos países mais directamente envolvidos (Egipto, França e Grécia) mantêm tudo em aberto. Antes de serem localizados e recuperados os pedaços maiores do avião e as respectivas caixas negras será muito difícil perceber o que aconteceu, até porque nenhum grupo reivindicou a autoria de um atentado – pouco depois da queda de um avião da companhia russa Metrojet no Egipto, em Outubro de 2015, o grupo jihadista Província do Sinai anunciou que colocara uma bomba a bordo e o Estado Islâmico reivindicou a autoria do atentado.

No caso do Airbus A320 da EgyptAir, e partindo do princípio de que havia fumo a bordo como indicam as mensagens reveladas este sábado, "a questão agora é saber se o incêndio foi provocado por uma falha eléctrica – por exemplo, um curto-circuito –, ou se foi usado algum tipo de engenho explosivo ou incendiário – por exemplo, por um terrorista – para provocar um incêndio ou outro tipo de danos", escreveu no seu blogue David Learmount, consultor do site Flightglobal.

O especialista em aviação tentou juntar alguns pontos a partir dos alertas, partindo do princípio de que houve um incêndio a bordo: "O fogo parece ter-se propagado rapidamente. Os controlos de voo falharam dois minutos depois do alerta de fumo no compartimento por baixo da cabina. Se outros sistemas falharam logo a seguir, os pilotos tinham meios limitados para controlar o aparelho, e estavam sob muita pressão. Isso talvez explique o facto de não terem feito pedidos de ajuda. Os pilotos estavam tentar perceber o que tinha accionado os alarmes de incêndio, onde é que o incêndio tinha começado, se podiam fazer algo para extingui-lo, e tudo isto enquanto lutavam contra a degradação gradual das suas capacidades para controlarem o aparelho."

Só depois de analisados os destroços do avião e o conteúdo das duas caixas negras (voz e dados de voo) se poderá ter uma imagem mais aproximada do que aconteceu, mas as equipas de busca têm uma tarefa difícil pela frente – apesar de já terem recuperado alguns fragmentos e restos mortais de passageiros, o Airbus A320 terá caído numa zona particularmente difícil do mar Mediterrâneo, e as caixas negras poderão estar a dois ou três quilómetros de profundidade. Com elas está o localizador que emite sinais ultra-sónicos, com bateria para apenas cerca de 30 dias e cuja eficácia é comprometida a maiores profundidades e numa zona de correntes fortes, como é o caso da área onde se pensa que o avião da EgyptAir terá caído.

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