Próximo primeiro-ministro turco promete “harmonia total” com Erdogan

Binali Yildirim foi recompensado pela lealdade de duas décadas ao Presidente turco, que espera avançar rapidamente com as suas ambições de concentração do poder.

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Binali Yildirim fundou o AKP com Erdogan e não esconde a sua lealdade ao Presidente Adem Altan/AFP

Binali Yildirim foi declarado esta quinta-feira o presumível novo primeiro-ministro turco, duas semanas depois de o primeiro-ministro cessante ter sido afastado do cargo pelo Presidente, Recep Tayyip Erdogan, que não tolera qualquer oposição ao seu plano de transformar a Turquia num regime presidencialista. Yildirim será o único candidato à liderança do Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) no congresso extraordinário convocado para domingo, o que fará também dele primeiro-ministro.

A saída de Ahmet Davutoglu — que, na prática, continuará primeiro-ministro até domingo — aconteceu com o culminar de uma série de disputas internas com Erdogan, que, apesar de ter cortado formalmente os laços com o seu partido quando se tornou Presidente, é quem o controla. Os dois discordavam da estratégia de aproximação à Europa de Davutoglu, do combate violento às milícias curdas de Erdogan e, sobretudo, dos seus planos para concentrar poder na figura do Presidente.

Antecipava-se por isso que o próximo primeiro-ministro seria uma figura próxima do Presidente e um forte aliado na estratégia presidencialista. Binali Yildirim é esse homem. Conheceu Erdogan na década de 1990, quando controlava uma empresa de ferries em Istambul e o Presidente liderava a câmara da cidade. São ambos fundadores do AKP. Yildirim desempenhou desde 2002 o cargo de ministro dos Transportes e Comunicações, uma área central nos primeiros governos de Erdogan, que foi primeiro-ministro.

“A sua maior qualificação para os cargos de líder do AKP e primeiro-ministro não é a sua competência, mas o seu servilismo ao Presidente”, argumenta o analista Wolfgango Piccoli, da agência Teneo. Yildirim, de resto, não esconde a sua lealdade a Erdogan. “Faremos o possível para trabalhar em harmonia total com o nosso Presidente fundador e líder, e depois com todos os nossos colegas”, declarou esta quinta-feira, quando o seu nome foi sugerido para candidato à liderança numa consulta interna a 800 militantes destacados.

O congresso de domingo será apenas um formalismo — servirá para “reforçar a solidariedade, laços e união” entre os militantes, segundo o próprio Yildirim. O próximo momento chave será a formação de um novo governo, que, de acordo com fontes do AKP ouvidas pela Reuters, poderá acontecer já na segunda-feira. Este será o executivo com que Erdogan espera avançar com a sua agenda presidencialista já este Verão e pode deixar de fora a última grande figura com influência no Ocidente, o vice-primeiro-ministro e homem de negócios Mehmet Simsek.

Erdogan deverá deixar para segundo plano a aplicação do acordo com a União Europeia para a devolução de refugiados, acordo esse negociado por Davutoglu, o principal interlocutor da Turquia com Bruxelas. O seu partido, aliás, está por agora focado em aprovar esta sexta-feira uma lei para retirar a imunidade parlamentar a deputados sob investigação, que muitos vêem como uma estratégia para restringir a acção do partido pró-curdo HDP e da formação oposicionista CHP.

A lei pode abrir caminho às ambições presidencialistas de Erdogan e manietar a oposição no Parlamento com base na polémica lei antiterrorismo na Turquia — o Presidente e o AKP apelaram repetidamente a que os deputados do partido pró-curdo sejam investigados por ligações às milícias separatistas no Leste do país. O mais provável é que a nova lei da imunidade parlamentar fique aquém dos 367 votos necessários para ser aprovada automaticamente, mas atinja o apoio necessário na sexta-feira para ir a referendo. 

 

 

 

 

 

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