“Se o BE não tivesse exigência, o acordo para a maioria parlamentar não teria existido”

O BE, garantiu a porta-voz, “aqui” está “para esticar a corda que mantém uma maioria” que visa a “recuperação de rendimentos”. O partido “foi sempre, e continuará a ser, a expressão de uma maioria que defende o país com força suficiente para fazer frente a Bruxelas.”

Catarina Martins momentos antes do jantar em Évora
Fotogaleria
Catarina Martins momentos antes do jantar em Évora DR
Fotogaleria
Mariana Mortágua DR
Fotogaleria
José Manuel Pureza DR

Durante o jantar em Évora, nas jornadas parlamentares do Bloco de Esquerda, a porta-voz Catarina Martins contou que foi ao dicionário ver o significado da palavra geringonça. De forma descontraída, e ao fazer um balanço dos seis meses de Governo socialista apoiado por acordos à esquerda, confirmou que geringonça é uma “máquina complexa com muitos parafusos e que funciona”.

Mas o essencial do discurso ainda estava para vir. A porta-voz não podia ter sido mais clara, ao comentar os detractores das exigências do Bloco ou dos perigos que as propostas do partido representam. “Se o BE não tivesse exigência, o acordo para a maioria parlamentar não teria existido”, disse, acrescentando que essa exigência conseguiu impor-se à austeridade mais dura da direita e mais soft dos socialistas.

“Tantas vezes ouvimos dizer, insinuar, que a exigência do BE pode ser um perigo para o país, a exigência do BE é o que torna possível a recuperação de rendimentos”, insistiu, sublinhando que a exigência do Bloco “é o cimento da recuperação de rendimentos, desta maioria existir”.

Foi uma Catarina Martins sem medos que afirmou que o país precisa dos bloquistas e que estão preparados para não ceder a Bruxelas: “A maioria é o compromisso para a recuperação de rendimentos. No BE ninguém se poupa a esforços. O BE foi sempre, e continuará a ser, a expressão de uma maioria que defende o país com força suficiente para fazer frente a Bruxelas.”

Garantiu que o BE não cede, nem pretende “fazer a vida fácil” à direita, e que “aqui” está “para esticar a corda que mantém uma maioria” que visa a “recuperação de rendimentos”. Catarina Martins sabe que “nenhum caminho é fácil, nenhum caminho é garantido”. Mas também sabe que “a austeridade só é inevitável” quando se desiste.

Criticou a direita por dizer que a maioria vai cair e que “vem aí a austeridade”. Para Catarina Martins, “sem bancarrota, a direita não existe”, está “agarrada à ideia de bancarrota”, como se fosse preciso anunciar uma “catástrofe” para as pessoas aceitarem a austeridade. Mas, assegurou, não é preciso ninguém saltar da janela, porque “a casa não está a arder”.

“O Bloco de Esquerda não desiste dessa maioria nem dessa recuperação de rendimentos”, repetiu, acrescentando, porém, que querem ir mais longe nas questões do emprego, das pensões demasiado baixas, querem salários e condições de trabalho “dignos”, querem desenhar “um futuro” para o país.

A porta-voz fez um balanço deste meio ano, considerando que o objectivo primordial – a recuperação de rendimentos – está a fazer o seu caminho, “tímido”, mas está a fazê-lo. E, apesar de também haver dificuldades, elencou várias conquistas: a subida do salário mínimo, dos salários cortados à função pública, do regresso dos feriados, da protecção das pensões, das alterações à lei da Interrupção Voluntária da Gravidez, da adopção plena por casais homossexuais, entre outras. Uma agenda “progressista”, “contra o conservadorismo”.

Antes, na intervenção que fez, a vice-presidente do grupo parlamentar, Mariana Mortágua, também criticou a posição da direita por se ter “atirado ao ar” com a medida de limitar o financiamento público aos colégios privados, onde existam escolas públicas. A direita, ironizou, que esteve sempre “marimbando-se” para a precariedade nas escolas privadas, vem agora defender os trabalhadores e o ensino nos colégios.

Neste ponto do discurso, aproveitou também para atacar o social-democrata Marques Mendes por ter defendido um colégio privado em Santa Maria da Feira, quando “ao lado” há uma escola pública, o liceu Passos Brandão, que “até ganhou prémios de excelência no ano passado”. “O que Marques Mendes defende não é a escola, é a renda do colégio privado”. E, para o Bloco, “cada cêntimo deve ir para a escola pública”.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários