Robôs do Facebook ameaçam aplicações da Apple e da Google

Os bots são as novas apps? Gigantes como o Facebook querem pôr-nos a conversar com robôs para comprar produtos ou pedir informações.

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Mark Zuckerberg quer o Facebook na linha da frente de uma “nova era” STEPHEN LAM/REUTERS

O Facebook pretende que as marcas abandonem as suas aplicações móveis e vão directamente aonde estão 900 milhões de consumidores – no Messenger, o serviço de mensagens da rede social fundada por Mark Zuckerberg. E que conversem com estes através de robôs capazes de vender produtos, dar informações e esclarecer dúvidas. Desta forma, o gigante tecnológico pretende tornar-se no maior intermediário entre vendedor e consumidor no comércio online e contestar a posição dominante da Apple e da Google e dos respectivos mercados de aplicações, que se encontram num momento de saturação. 

Assim, o Messenger poderá transformar-se em breve numa espécie de centro comercial ou de Loja do Cidadão, com as transacções a processarem-se através de uma janela de diálogo – a diferença é que, em vez de conversarmos com alguém, falamos com uma marca. 

A ideia de uma “mudança de paradigma” é defendida por David Marcus, vice-presidente do Facebook para a área do messaging e um dos oradores da conferência para programadores F8, que terminou na quarta-feira em São Francisco, estado norte-americano da Califórnia. “Todos queriam sites quando a web foi lançada. Depois, todos queriam apps. Agora é o início de uma nova era”, disse na terça-feira em declarações à Wired.

Essa “nova era” pertencerá aos bots (dimuntivo inglês de robôs), pequenos programas assentes em inteligência artificial (ou seja, na capacidade de um sistema aprender e prever situações sozinho, com base numa análise de dados e de comportamentos prévios) e que respondem a pedidos como a reserva de um bilhete de avião ou um resumo das últimas notícias. Não sendo um conceito inédito, os recentes avanços no campo da inteligência artificial e o crescimento explosivo dos serviços de mensagem vêm abrir agora abrir um leque de novas possibilidades. 

Vários concorrentes na linha de partida

Na terça-feira, o Facebook deu um passo determinante nesse sentido ao abrir a programadores externos a sua plataforma de desenvolvimento de chatbots (robôs de conversação) para o Messenger. A Microsoft – mal refeita da experiência falhada com a Tay, um projecto de inteligência artificial que terminou com um bot a aprender e reproduzir insultos racistas no Twitter – também tinha anunciado a abertura da sua plataforma no início do mês. No entanto, e com 900 milhões de utilizadores activos e a aplicação móvel mais descarregada a nível mundial, o Messenger apresenta um potencial único para as marcas. Do ponto de vista do consumidor, e tendo em conta a informação do consumidor de que o Facebook pode dispor, das suas preferências a dados como a morada ou o cartão de crédito, elimina-se a actual necessidade de criar um novo registo cada vez que se descarrega uma aplicação de uma marca.

À imagem do que já acontece em plataformas de mensagens como o WeChat (um gigante asiático semelhante ao WhatsApp), o canadiano Kik ou o russo-germânico Telegraph, será possível reservar uma mesa num restaurante ou comprar um bilhete de cinema através do Messenger, digitando o pedido numa janela de diálogo.

De momento, os bots disponíveis no Messenger demonstram que a tecnologia ainda se encontra num estágio inicial. O robô do Wall Street Journal apresenta um sumário das últimas notícias em resposta a um reduzido conjunto de ordens predefinidas. O Hi Poncho indica previsões meteorológicas, mas apenas para os Estados Unidos. De forma um pouco mais sofisticada, mas também apenas em alguns mercados, o bot da Uber permite a reserva de um veículo. Em declarações ao Financial Times, David Marcus explica a evolução será gradual e que o Facebook pretende controlar a quantidade e qualidade dos bots. “Queremos ter a certeza de que o que aconteceu ao e-mail nunca acontecerá ao Messenger”, afirma, aludindo ao fenómeno do spam.

O controlo é uma palavra-chave. Ao transformar o Messenger num ecossistema para bots, o Facebook pretende replicar o que a Apple fez quando, em 2008, criou um universo fechado com o sistema operativo móvel iOS, gerando em 2015 receitas de 17 mil milhões de euros com a venda de aplicações. Com a desaceleração do mercado das apps e das vendas do iPhone, vários gigantes colocam-se em linha para ser a próxima Apple.

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