PCP desafia Governo com interpelação sobre política geral e 35 horas para todos

Comunistas anunciam propostas de 35 horas para todos os trabalhadores, reposição de freguesias extintas, fim dos bancos de horas, revisão da lei dos baldios, eliminação de portagens no interior do país e Algarve, apoios à fixação de profissionais de saúde no interior.

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Não haverá litígios latentes, mas o PCP insiste em marcar o seu terreno, por isso vai fazer uma interpelação ao Governo na Assembleia da República sobre “política geral, centrada nos “problemas das assimetrias regionais, da desertificação e do despovoamento do território e nas políticas necessárias para assegurar o desenvolvimento equilibrado do país”.

Mas também irá entregar no Parlamento sete propostas em matérias que são um nítido desafio ao PS, como as 35 horas semanais para todos os trabalhadores, o fim dos bancos de horas e a reposição do princípio do tratamento mais favorável do trabalhador, a reposição de freguesias extintas pelo anterior Governo, o apoio à fixação de profissionais de saúde no interior, a revisão da lei dos baldios aprovada por PSD/CDS.

João Oliveira recusa que esta interpelação pública e formal seja a expressão de que algo vai mal no “casamento” com os socialistas e reiterou a ideia de que o compromisso com o PS não restringe o PCP na iniciativa parlamentar. O dirigente comunista falava no encerramento das jornadas parlamentares que a bancada comunista realizou esta segunda e terça-feiras em Vila Real e Bragança, argumentando que com este “mecanismo especial” da interpelação o PCP quer “dar destaque à necessidade de discutir estes assuntos”.

Para além das propostas legislativas e da interpelação ao Governo, o PCP quer afirmar a sua posição no Parlamento com mais debates. Para os “próximos dias” promete pedir a “discussão urgente” de medidas para compensar os trabalhadores da Casa do Douro e assegurar a salvaguarda do património da instituição que o anterior Governo decidiu extinguir. Vai propor “com prioridade” o agendamento da discussão dos projectos de resolução que já entregou no Parlamento para a eliminação de portagens nas ex-SCUT no interior do país e no Algarve.

Um Governo que dê "o exemplo"

João Oliveira deixou também alguns avisos. O PCP quer que o Governo dê “o exemplo” na questão das 35 horas com a “rápida aprovação final dos projectos” que ainda estão em apreciação sobre o regime para a função pública – agendadas para entrar em vigor em Julho mas que à esquerda do PS se quer mais cedo e o Governo tem andado a adiar - e promete “continuar a lutar” para que cada concelho do país tenha um tribunal de competência genérica em matéria cível e criminal. A que soma outra exigência: reclama do Executivo socialista a definição de um plano de intervenção para todo o parque escolar da região de Trás-os-Montes e Alto Douro.

Questionado pelo PÚBLICO sobre a reposição de freguesias, João Oliveira não especificou se o processo será feito de forma individual ou em pacote mas promete “ter em conta as posições assumidas pelas populações e autarquias” e colocar como objectivo o reforço do poder local – houve freguesias que aceitaram o processo de fusão que reduziu 1168 das 4259 freguesias então existentes.

No caso das 35 horas de trabalho para todos, a proposta do PCP é que o regime possa entrar em vigor no início do ano civil seguinte à sua aprovação desde que tenham decorrido seis meses sobre a sua publicação. Ora, como o assunto pressupõe uma discussão também em concertação social, a concretização desta proposta seria atirada para 2018.

Questionado sobre se ao fazer este processo já através do Parlamento o PCP não está a esvaziar a concertação social e a colocar o Governo numa posição delicada perante os parceiros sociais – como chegou a acusar PSD e CDS de fazerem -, João Oliveira rejeitou tal cenário e disse que é um compromisso que corresponde a iniciativas já apresentadas no Parlamento. E argumentou que a proposta procura “traduzir na redução do horário de trabalho o reflexo do progresso científico e tecnológico que permite, com maior facilidade, produzir mais”.

Ainda no capítulo laboral, o PCP apresentará projectos de lei para a revogação dos regimes de adaptabilidade e do banco de horas individual e grupo, para a reposição do princípio do tratamento mais favorável do trabalhador e a eliminação da caducidade dos contratos colectivos de trabalho.

Nas questões da interioridade, que foram, afinal o tema central destas jornadas, além da iniciativa sobre a Casa do Douro e os seus trabalhadores que o partido vai levar a debate no Parlamento, o PCP irá apresentar um projecto de resolução para acabar com os problemas ambientais no complexo agro-industrial do Cachão, em Mirandela, e para a criação de um plano de valorização e aproveitamento do espaço.

João Oliveira afirmou que nos dois dias dedicados aos distritos de Vila Real e Bragança os deputados comunistas ficaram com um “retrato muito vivo das dificuldades resultantes das gritantes assimetrias regionais que não cessam de se acentuar”. Para contrariar tal cenário, o líder parlamentar do PCP defendeu a necessidade de uma “política de desenvolvimento integrada que assente na defesa dos serviços públicos de proximidade (na saúde, educação, justiça, apoio social) e na valorização da produção nacional, que tenha em conta a modernização e valorização do transporte ferroviário de mercadorias e passageiros, uma rede viária que ligue todos os concelhos de forma rápida e segura à rede nacional de auto-estradas e uma rede de transportes públicos capaz de garantir o direito à mobilidade das populações”.

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