À espera de resistência, UE vai mandar centenas de refugiados para a Turquia

Os primeiros transportes da ilha de Lesbos para Dikili, na costa turca, deve acontecer segunda-feira.

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Protesto na ilha de Chios contra o transporte de volta para a Grécia LOUISA GOULIAMAKI/AFP

Na maior discrição, as autoridades europeias preparam a operação que deve iniciar-se segunda-feira de manhã, para o primeiro envio de volta para a Turquia de centenas de refugiados que cruzaram o Mediterrâneo para chegar à Grécia e, daí, tentar alcançar um outro país da União Europeia para pedir asilo.

Mais de 5600 pessoas chegaram à ilha grega de Lesbos desde 20 de Março, a data a partir da qual o acordo entre a União Europeia e a Turquia entrou em vigor. Desde então, por cada pessoa que faça esta viagem de forma irregular, e seja mandado para trás, a UE compromete-se a receber um outro que esteja em campos de refugiados na Turquia, devidamente registado.

Este acordo não abrange, no entanto, as mais de 40 mil pessoas que já estavam em território grego na altura em que foi assinado o acordo. Neste momento, há 51 mil refugiados na Grécia, a maioria dos quais em fuga da guerra na Síria, contando com os do continente e os das ilhas, diz o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

O posto de registo de Moria, em Lesbos, que desde 20 de Março se transformou também num centro de detenção, está sobrelotado, e a situação está a deteriorar-se rapidamente. “As pessoas estão a dormir ao relento, e falta comida. Há muita ansiedade e frustração. Para piorar as coisas, há famílias separadas, com alguns familiares espalhados um pouco por toda a Grécia”, afirmou Melissa Fleming, porta-voz do ACNUR.

Tem havido protestos de migrantes, que não querem ser enviados de regresso à Turquia, mas teme-se a possibilidade de haver violência. “Estamos à espera de violência. Quando as pessoas ficam desesperadas tendem a ser violentas”, afirmou George Kyritsis, o porta-voz do Governo grego para a crise dos migrantes, citado pelo jornal britânico The Guardian.

Mas o acordo segue a sua marcha. “Está a ser feito o planeamento para as devoluções”, disse à Reuters George Kyritsis. Sabe-se que o transporte das primeiras pessoas a serem mandadas para a Turquia deverá ser feito segunda-feira de manhã, em dois ferries fretados pela Frontex, a agência responsável pelo controlo das fronteiras europeias, e deverá partir de Lesbos rumo a Dikili, na Turquia.

Este domingo, partiram 34 inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) para a Grécia, para integrar as equipas rápidas de intervenção da Frontex e do Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo (EASO), que darão apoio à aplicação no terreno do acordo para os refugiados entre a União Europeia e a Turquia. Outros países europeus enviaram igualmente especialistas para ajudar nesta operação.

Segundo a agência de informação grega ANA, poderão ser enviados para a Turquia 750 refugiados entre segunda e quarta-feira.

Na ilha de Lesbos, houve uma vaga de pedidos de asilo feitos mesmo na última hora – porque o acordo prevê que cada caso seja analisado individualmente, dizem fontes policiais, citadas pela AFP.

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