O que diz a Economist

“No começo de 2016, o clima no Brasil devia ser exuberante. Em Agosto, o Rio de Janeiro vai ser o anfitrião dos primeiros Jogos Olímpicos da América do Sul, dando uma  oportunidade aos brasileiros de embarcarem no que fazem melhor: promover uma festa verdadeiramente espectacular. Em vez disso, o Brasil enfrenta um desastre político e económico.” Começa assim o artigo intitulado “A queda do Brasil” na edição da revista The Economist de 2 de Janeiro. A previsão é que a economia brasileira encolha até 3% este ano, assinala a revista semanal, que também aponta para uma classe política desacreditada pelo seu suposto envolvimento no escândalo de corrupção da Petrobras – o maior na história do país – e para as incertezas criadas pelo processo de impeachment (destituição) da Presidente Dilma Rousseff. “Sendo o B nos BRICS, supostamente o Brasil devia estar na vanguarda das economias emergentes em rápido crescimento. Em vez disso, o país confronta-se com uma disfunção política e provavelmente o regresso a uma inflação galopante”, diz o mesmo artigo. “Somente escolhas difíceis podem voltar a pôr o Brasil na direcção certa. Por enquanto, a sra. Rousseff não parece ter estômago para elas.”

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"A queda do Brasil" na capa de 3 de Janeiro

A revista nota que, à semelhança de outras economias, o Brasil foi prejudicado pela queda nos preços das commodities [matérias-primas] que produz – em particular, petróleo, minério de ferro e soja. Mas Rousseff agravou a situação, defende a Economist, gastando de forma “extravagante e pouco cautelosa” em pensões e isenções fiscais “improdutivas” para “indústrias favorecidas”. O défice fiscal, que representava 2% do PIB em 2010, aumentou para 10% em 2015.

O Brasil não se pode dar ao luxo de esperar mais tempo para fazer reformas, diz a revista, a começar pelo sistema de pensões. O código do trabalho, considerado retrógrado, é outra área que precisa de intervenção, até porque mantém a produtividade e competitividade baixas, segundo a revista. O sector público é “demasiado grande” e “ineficiente” e “um fardo para a vitalidade da economia”. Fazer mudanças estruturais é difícil para qualquer governo, mas no caso do Brasil as perspectivas são agravadas por “um sistema político absurdo, que favorece a fragmentação partidária e a compra de votos e atrai mercenários políticos pouco comprometidos com o partido ou com o programa”.

O impeachment promete dominar a agenda política durante meses, o Partido dos Trabalhadores (PT) de Dilma não é favorável a medidas de austeridade, e o Governo não dispõe de uma maioria no Congresso para aprovar mudanças constitucionais que trariam as reformas necessárias. Se tudo ficar na mesma, diz a Economist, as conquistas do Brasil na última década poderão ser postas em causa. “O triunfo do Brasil foi tirar dezenas de milhões de pessoas da pobreza extrema. A recessão irá travar, ou mesmo reverter, isso.”, conclui a revista.

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