Morreu idoso vítima de AVC que foi transferido de Faro para Coimbra

Hospital de São José, em Lisboa, terá recusado receber o doente, o que atrasou o seu tratamento. Ministério da Saúde aguarda conclusões do inquérito aberto no hospital de Faro.

Foto
Hospital de Faro afinal assegura serviço de neurocirurgia Foto: Virgílio Rodrigues

Depois de ter permanecido vários dias em coma, morreu esta segunda-feira o homem de 74 anos que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) e foi encaminhado do hospital de Faro para o de Coimbra porque o São José (em Lisboa) se terá recusado a recebê-lo. O Centro Hospitalar do Algarve (CHA), a que pertence o hospital de Faro, já anunciou que abriu um inquérito para averiguar se foram cumpridas todas as regras e protocolos estipulados neste tipo de situação. Uma fonte do Ministério da Saúde adiantou ao PÚBLICO que a tutela vai aguardar as conclusões deste inquérito.

Atendido no hospital de Faro no passado dia 14 com sintomas de AVC isquémico (uma área do cérebro deixa de ter sangue), o idoso terá visto o seu tratamento ser protelado por não ter sido encaminhado do Algarve para Lisboa, alegamente porque o hospital de São José não o recebeu com o argumento de que o médico especialista estaria quase a sair do serviço, segundo noticiou a TVI.

O doente foi transferido de ambulância para Coimbra no dia 15, onde morreu ao início da madrugada desta segunda-feira, adiantou o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.

O hospital de São José tem estado debaixo dos holofotes depois de ter sido tornada pública a morte de um jovem de 29 anos que aí permaneceu internado durante três dias após a ruptura de um aneurisma. David Duarte, assim se chamava o jovem, morreu enquanto aguardava por um tratamento urgente que não foi lhe prestado porque a equipa especializada deixou de fazer prevenção aos fins-de-semana na sequência dos cortes no pagamento de horas extraordinárias. Depois disso, foi noticiado que pelo menos outras quatro pessoas morreram em circunstâncias semelhantes nos últimos dois anos.

Quanto ao caso de Faro, e apesar do inquérito anunciado, o presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Algarve, Pedro Nunes, já disse à Rádio Renascença que acredita que “as coisas ocorreram dentro da normalidade” naquele hospital, uma vez que este não tinha meios para tratar o idoso e teria sempre que o transferir para um hospital com uma equipa especializada para lidar com este tipo de casos.

O hospital de Faro, especificou Pedro Nunes, não tem um serviço de neurorradiologia de intervenção e, por isso, “quando há um doente que possa beneficiar deste método, o hospital assinala e o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes] é que avalia para onde é que o doente vai”. Sobre o encaminhamento do idoso, admitiu não saber para qual hospital de Lisboa terá sido feito o pedido de transferência, mas sublinhou que, “na capital, só o Santa Maria e o São José é que têm capacidade para o fazer”. A unidade de referência, precisou, não tem de ser obrigatoriamente o São José, pode ser o Santa Maria.

Em relação às seis horas de espera de que se queixaram os familiares do idoso, Pedro Nunes considerou que “até nem são muitas", uma vez que que "o doente foi avaliado, sujeito a análises, a TAC [tomografia axial computorizada] e terá feito, inclusivamente, terapêutica, a chamada trombólise [para dissolver o coágulo de sangue]”.

Neste fim-de-semana, o CHA anunciou ainda a abertura de um inquérito para esclarecer se houve responsabilidades de algum profissional num desentendimento com um utente, verificado no serviço de urgência de Faro na madrugada de sexta-feira, devido à longa espera no atendimento.

Sugerir correcção
Ler 10 comentários