Osborne foi a Berlim apresentar as condições de Londres para se manter na UE

Governo britânico apoia reformas na zona euro em troca de mudanças que "salvaguardem os interesses das economias" que não aderiram à moeda única.

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Osborne encontrou-se com o seu homólogo alemão, que promete não ignorar "as reivindicações legítimas" de Londres John Macdougall/AFP

O ministro das Finanças britânico, George Osborne, foi a Berlim desafiar o Governo alemão a aceitar um acordo que garanta que as decisões e os custos associados à zona euro não são impostos ao Reino Unido. Em troca, Londres promete deixar caminho livre para as reformas necessárias ao reforço da moeda única.

Osborne encabeça a delegação britânica que está a fazer uma nova ronda pelas capitais europeias, na esperança de convencer os parceiros a aceitarem as propostas de reforma a tempo do referendo sobre a permanência do país na União Europeia prometido para o final de 2017. Falando num encontro com governantes e empresários em Berlim, o ministro das Finanças britânico apresentou em traços largos aquilo que disse serem “as mudanças necessárias para que o Reino Unido se mantenha na UE”.

“Deixem-me ser claro: há um acordo que pode ser feito e podemos trabalhar nele juntos”, afirmou. “Em vez de sermos um obstáculo e vetarmos as emendas aos tratados que são necessárias, podemos ajudar a zona euro a fazer as mudanças duradouras que são necessárias para reforçar o euro. Em troca, vocês podem ajudar-nos a fazer as mudanças que precisamos para salvaguardar os interesses das economias que não estão na zona euro”, explicou.

Com as sondagens a indicarem que há apenas uma ligeira maioria de apoio entre os britânicos à permanência na UE, o Governo conservador de David Cameron está sob pressão crescente para responder aos eurocépticos, tanto do seu partido como da oposição trabalhista. Nigel Farage, líder do partido antieuropeu UKIP, afirmou que o discurso de Osborne “se assemelhou ao de um comissário europeu”. “Para quem está ele a trabalhar afinal?”, questionou o líder populista, para quem nada menos do que a saída britânica da UE é aceitável.

No seu discurso, Osborne definiu a protecção dos estados que pertencem à UE mas não fazem parte dos 19 países da zona euro como principal prioridade da renegociação que, entre outros objectivos, visa blindar o sector financeiro britânico, responsável por 8% do PIB do país. Definindo as bases do acordo que propõe à Alemanha e aos restantes países da zona euro, Osborne disse que a “lógica implacável” da união monetária implica que é necessário rever os tratados europeus para garantir uma maior integração económica dos países que a integram.

“Quando se trata da relação que deve existir entre os países que usam o euro dos que não usam, a nossa proposta é esta: vocês conseguem uma zona euro que funciona melhor, nós garantimos que as decisões e os custos da zona euro não nos são impostos” e que “a voz da libra é ouvida quando deve ser”, afirmou. O responsável britânico quer que este acordo “fique escrito em letra de lei” e sublinha que o resultado final será proveitoso para todos e garantirá “uma União Europeia melhor”.

Cameron prometeu apresentar "no início de Novembro" a lista completa de condições que o seu Governo exige para defender a permanência do país na UE no referendo de 2017. Na semana passada, o primeiro-ministro britânico manifestou-se como ainda não tinha feito a favor do “sim”, quando avisou os eurocépticos do seu partido sobre os riscos de o Reino Unido seguir o exemplo da Noruega, país que não pertence à união mas que contribui para os seus cofres e é afectado por várias das decisões tomadas em Bruxelas.  

Num comunicado, o Ministério das Finanças alemão assegurou que as “reivindicações legítimas” de Londres, sobretudo as que visam preservar a competitividade, terão a atenção de Berlim. “Daremos a nossa contribuição lá onde pudermos dar para evitar o 'Brexit'”, lê-se no documento.

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