Tunísia vai construir um muro na fronteira com a Líbia para travar o jihadismo

Tunes quer proteger-se da ameaça do extremismo islâmico e defender a preciosa indústria do turismo. Muro terá 160 quilómetros e início na costa do Mediterrâneo.

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A Tunísia quer a todo o custo impedir as praias desertas e a fuga de turistas Kenzo Tribouillard / AFP

A Tunísia vai construir um muro de 160 quilómetros ao longo de parte da sua fronteira com a Líbia. A construção foi anunciada nesta quarta-feira pelo primeiro-ministro tunisino, Habib Essid, e faz parte de um conjunto de medidas de protecção nacional contra a ameaça do extremismo islâmico.

Prolonga-se o estado de emergência no país, decretado pelo Governo tunisino uma semana depois do ataque do dia 26 de Junho nas praias de Sousse. Nesse dia, o jovem estudante Seifeddine Rezgui atacou os “antros de fornicação” do resort turístico Imperial Marhaba e matou 38 estrangeiros com a metralhadora Kalashnikov que levava escondida no seu guarda-sol. Rezgui agiu em nome do autoproclamado Estado Islâmico e Tunes acredita que o jovem treinou com o grupo extremista na Líbia.

“Travamos uma guerra feroz contra o terrorismo para proteger as vidas dos proprietários, o regime republicano, o Estado civil e as suas instituições”, disse o primeiro-ministro do país, citado pela AFP. Habib Essid foi ao Parlamento justificar o estado de emergência e anunciou que o país enfrenta "vários planos terroristas" que visam "matar o maior número de pessoas" possível. 

Depois do ataque em Sousse, a Tunísia tem tentado por vários meios impedir a saída de turistas do país. O sector é vital para a economia do pequeno país africano, que já tem cerca de 1800 militares e polícias a patrulharem os principais pontos turísticos. “Quaisquer que sejam os sacrifícios, nós superaremos o terrorismo”, assegurou Habib Essid.

Para isso, o Governo aprovou já um rol de medidas de combate ao extremismo. A construção de um muro na fronteira com a Líbia é a mais recente. O primeiro-ministro não deu muitos detalhes sobre a estrutura, a não ser que o seu ponto de partida será a costa com o Mediterrâneo e que esta cobrirá 160 dos cerca de 450 quilómetros de fronteira com a Líbia, no Norte do país.

Habib Essid quer o muro construído antes do final do ano, escreve a BBC. O exército participará na construção da barreira, que terá vários postos de vigilância para o exército.

Fronteira porosa
Tunísia e Líbia são exemplos opostos do sucesso da Primavera Árabe. À medida que a Tunísia progredia no sentido da democratização no pós-Ben Ali, aprovava uma nova Constituição e organizava duas eleições livres, a Líbia transformava-se aos poucos num Estado ingovernável e num foco de instabilidade política.

Hoje, a Líbia tem dois “governos” que disputam o país entre si e vários grupos extremistas e tribos. Nesta disputa inserem-se os jihadistas do Estado Islâmico e do Ansar al-Sharia.

O ataque em Sousse foi o segundo grande atentado na Tunísia em três meses. O autoproclamado Estado Islâmico reivindicou também o ataque de Março contra o museu Bardo, em Tunes, que matou 21 turistas. Já se falava então de um problema de fronteira entre a Tunísia e a Líbia, considerado um espaço de passagem fácil para islamistas radicais.

No final de Março, pouco depois do atentado em Tunes, o ministro francês do Interior foi à Tunísia alertar para os perigos de uma fronteira insegura. “O Estado está consideravelmente enfraquecido pelas fronteiras porosas entre a Líbia e a Tunísia”, disse Bernard Cazeneuve, citado pela Al-Jazira. “O controlo das fronteiras é importante e podemos trabalhar nesse tema mobilizando os nossos meios e capacidades”, concluiu.

Mas a decisão de construir um muro com dezenas de quilómetros entre os dois países deve acentuar agora os receios, sobretudo vindos do ocidente, de que a Tunísia optou por uma via autoritária para responder à ameaça extremista no país e que, dessa maneira, pode pôr em causa algumas das conquistas da sua revolta.

Imediatamente depois do ataque, o primeiro-ministro anunciou que seriam fechadas associações civis e cerca de 80 mesquitas consideradas "radicais". Mais tarde, o Governo proibiu que todos os homens com menos de 35 anos viajassem para a Líbia. Uma resposta, escreveu em Junho a revista norte-americana Foreign Policy, "demasiado reminscente do antigo regime de Ben Ali".

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