Tesoureiro do PT preso por envolvimento no caso Petrobras

Vaccari Neto fica em prisão preventiva por risco de interferir com as investigações. É suspeito de ter canalizado financiamento ilegal da Petrobras para o PT de Dilma Rousseff.

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Vaccari Neto é um dos mais destacados suspeitos de envolvimento no caso de corrupção na Petrobras Ueslei Marcelino/Reuters

O tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), João Vaccari Neto, foi novamente detido no âmbito das investigações à rede de corrupção da Petrobras. Vaccari Neto foi detido na manhã desta quarta-feira na sua casa, em São Paulo, e vai ficar em prisão perventiva. Para além do tesoureiro do PT, foi também emitido um mandado de "detenção temporária" para a sua cunhada, Maurice Correia de Lima, que as autoridades ainda não conseguiram encontrar. Foi igualmente ouvida pela polícia a mulher de Vaccari Neto, Gisela Rose de Lima.

O Ministério Público brasileiro suspeita que parte das luvas pagas por empresários à Petrobras assumiam a forma de financiamento partidário para o Partido dos Trabalhadores, de Lula da Silva e Dilma Rousseff. É aqui que o nome de Vaccari Neto surge e é já a segunda vez que o tesoureiro do PT é detido no âmbito das investigações ao apelidado "caso Lava-Jato". À data da primeira detenção de Vaccari Neto, em Fevereiro, o responsável do PT foi apenas levado para prestar depoimentos. Mas Vaccari Neto ficará agora em prisão preventiva, uma vez que a Justiça entende que poderá interferir nas investigações e prosseguir com as actividades de que é suspeito. 

"[Vaccari Neto] remanesce no cargo de tesoureiro do Partido dos Trabalhadores. Em tal posição de poder e influência política poderá persistir na prática de crimes ou mesmo perturbar as investigações e a instrução da acção penal", disse o juiz Sérgio Moro, que ordenou as operações desta quarta-feira, citado pelo diário Folha de São Paulo

Existem pelo menos duas testemunhas contra o tesoureiro do PT: Pedro Barusco e Alberto Youssef. Ambos assinaram acordos de colaboração com a Justiça e ambos afirmam que Vaccari Neto recebeu subornos em nome do Partido dos Trabalhadores. Ao todo, segundo Pedro Barusco, Vaccari Neto terá recebido à volta de 200 milhões de dólares entre 2003 e 2013.

Alberto Youssef afirma que pelo menos 400 mil reais (cerca de 120 mil euros) foram depositados na conta da mulher de Vaccari Neto, ela também alvo das operações da polícia brasileira desta quarta-feira. De acordo com o jornal O Globo, a Polícia Federal do Brasil já encontrou indícios de transferências de Youssef para a cunhada de Vaccari Neto, também ela detida.

Pedro Barusco, ex-gestor na Petrobras, envolveu-se na rede de corrupção quando trabalhava sob o comando de Renato Duque. Este último foi nomeado para a petrolífera pelo próprio PT e foi também detido pela segunda vez em Março por suspeitas de envolvimento na rede de corrupção – Duque permanece detido preventivamente.

Barusco prestou declarações em Março ao Congresso brasileiro, no âmbito da comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga a rede de corrupção na petrolífera do Estado. Durante a sessão, o ex-gestor da Petrobras reiterou o que já dissera ao Ministério Público: que era ele quem recebia o pagamento de luvas pelas empresas à Petrobras e que entregava parte delas a Vaccari Neto.

Pedro Barusco fez também referência a um pedido de Vaccari de “reforço financeiro”, nas palavras do diário brasileiro Folha de São Paulo. Este dinheiro, cerca de 300 mil reais (à volta de 90 mil euros), terá tido como destino a campanha eleitoral de Dilma Rousseff de 2010, assegura o ex-gestor.

Vaccari Neto e o PT refutaram sempre estas acusações. O tesoureiro do partido de Dilma e Lula foi no início deste mês à mesma CPI em que Barusco, um mês antes, o acusara publicamente de ter canalizado financiamento ilegal para o partido. Ao longo da audição, Vaccari Neto refutou as acusações de Yousseff e Barusco.

Sobre Youssef Vaccari Neto disse que apenas se encontrara com ele uma vez “casualmente” e “há muitos anos”. “Não tenho relacionamento com ele”, disse Vaccari Neto. Já com Pedro Barusco, o tesoureiro do PT disse à CPI que teve “poucos contactos” e que nunca tratou com ele “assuntos sobre finanças do partido”.

Admitiu, no entanto, que se encontrara com alguns responsáveis das empresas de construção actualmente sob investigação no processo Lava-Jato e que esses encontros tinham como objectivo captar financiamentos para o PT. Vaccari Neto disse também que esses encontros eram uma prática habitual. “É usual que o secretário de finanças do Partido dos Trabalhadores faça visitas institucionais à empresa na busca de recursos”, disse, durante a audição na comissão parlamentar de inquérito.

Até agora, Vaccari Neto manteve o cargo de tesoureiro do PT, mesmo estando sob investigação pelo Ministério Público. Na CPI, assegurou que contava com o apoio do partido para continuar como presidente da secretaria das finanças.

Mas, de acordo com a imprensa brasileira, o Partido dos Trabalhadores tem debatido a possibilidade de afastar Vaccari Neto. Lula da Silva, diz o Folha de São Paulo, é um dos que apoiam o afastamento imediato de Vaccari Neto. Mas o actual presidente do PT, Rui Falcão, tem tentado contrariar este plano de acção e aponta para a possibilidade de um afastamento de Vaccari Neto nesta fase poder ser interpretado como “uma confissão de culpa”, como escreve o Folha de São Paulo

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