Um King nos bastidores

Ninguém recordará Selma por algum mérito intrínseco, apenas pelo seu carácter sintomático para uma história do cinema americano na “era Obama”.

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Está para Martin Luther King como o Lincoln de Spielberg estava para o seu sujeito: vem mostrar que o “idealismo” de primeiro plano precisa sempre, nos bastidores, de uma dose de calculismo para se tornar politicamente eficaz.

O argumento de Selma, que narra um episódio da luta dos negros americanos pela aquisição de plenos direitos cívicos, é inteligente. Mas a condução de Ava du Vernay é tão tépida, tão indistinta, que não há como manter o interesse para além da questão sociológica – e apostar que, em dez ou vinte anos, ninguém recordará Selma por algum mérito intrínseco, apenas pelo seu carácter sintomático para uma história do cinema americano na “era Obama”.

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