Ucrânia recebe 500 milhões de euros e novo Governo promete reformas

Autoridades ucranianas aprofundam aproximação ao Ocidente e incluem três ministros estrangeiros formados em universidades norte-americanas.

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Parlamento aprovou novo Governo ucraniano Valentyn Ogirenko / Reuters

A União Europeia aprovou um novo empréstimo no valor de 500 milhões de euros para a Ucrânia nesta quarta-feira, um dia depois da aprovação do próximo Governo que tem na recuperação económica do país um dos maiores desafios do seu mandato.

O empréstimo está incluído no programa mais vasto de assistência financeira à Ucrânia decidido no início do ano “em tempos difíceis no plano económico e social”, explicou o comissário europeu para os Assuntos Económicos, Pierre Moscovici. Na próxima Primavera, a Ucrânia deverá receber uma nova tranche de 250 milhões de euros para concluir o programa de assistência que ascende, no total, a 1,6 mil milhões.

“Em contrapartida, é vital que o país mantenha o ritmo das reformas para criar um ambiente próspero e durável para todos os ucranianos”, acrescentou o comissário francês, citado pela AFP. As reformas requeridas pela UE e também pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) – que concedeu uma linha de crédito de quase 14 mil milhões de euros – vão desde as finanças públicas à luta contra a corrupção, passando por sectores específicos como os transportes e a energia.

Mas mesmo estes apoios internacionais podem não ser suficientes para manter a economia ucraniana a salvo da bancarrota. Na próxima semana, os ministros das Finanças da UE vão discutir a possibilidade de avançar para um novo programa, face a um pedido já feito por Kiev de mais dois mil milhões de euros para o próximo ano. Segundo o Wall Street Journal, na reunião não deverá ser tomada qualquer decisão, uma vez que o valor pedido é demasiado elevado e Bruxelas pretende ver a implementação das reformas.

E é para as pôr em marcha que o Parlamento deu nesta terça-feira luz verde ao novo Governo – o primeiro com legitimidade eleitoral desde a queda de Viktor Ianukovich, em Fevereiro. Entre as primeiras medidas a serem tomadas está a privatização de empresas estatais em áreas como o transporte ferroviário e a construção de estradas, anunciou o vice-primeiro-ministro para as Infra-Estruturas, Valeri Voshchevski.

No novo Governo, a grande novidade é a inclusão de três ministros estrangeiros, cuja nacionalidade ucraniana tinha sido concedida escassas horas antes pelo Presidente, Petro Poroshenko. Em comum, os três ministros têm a passagem por universidades norte-americanas durante a sua formação e uma experiência em lidar com “crises sistémicas”, explicou Poroshenko.

A importante pasta das Finanças ficará a cargo de Natalie Jaresko, uma norte-americana com origens ucranianas formada em Harvard, que exerceu vários cargos no Departamento de Estado dos EUA e foi uma das fundadoras da Horizon Capital, um fundo de investimento que trabalha na Europa de Leste. As primeiras palavras que dirigiu ao Parlamento foram para revelar que o orçamento será entregue até 20 de Dezembro e que a luta contra a corrupção será uma das prioridades, segundo escreve o jornal Kyiv Post.

Na Saúde ficou Alexander Kvitashvili, ex-ministro do Trabalho na Geórgia e formado nos Estados Unidos. Aivaras Abromavicius, nascido na Lituânia, irá liderar o Ministério da Economia, depois de ter estudado na Estónia e nos EUA e de ter trabalhado para uma empresa de investimentos sueca.

As principais críticas a estas nomeações vieram da bancada do Bloco da Oposição – identificado com o extinto Partido das Regiões de Ianukovich. “Não percebemos porque não foram encontrados dez candidatos a ministros entre os 300 deputados da coligação governamental ou entre os 40 milhões de habitantes na Ucrânia”, afirmou o líder do partido, Iuri Boiko.

Analistas ouvidos pelo site noticioso russo Sputnik (antigo RIA Novosti) consideram que a entrada de ministros estrangeiros no executivo ucraniano se trata de mais uma demonstração de aproximação ao Ocidente. “Trata-se de uma mensagem política ou de relações públicas para reafirmar o compromisso pró-ocidental da Ucrânia, mas não tenho certezas quanto ao real valor prático”, disse Balázs Jarabik, especialista do Instituto Carnegie.

Washington negou ter exercido qualquer interferência na nomeação de uma cidadã norte-americana no Governo ucraniano. “Esta é uma escolha do povo ucraniano e dos seus representantes eleitos”, esclareceu a porta-voz do Departamento de Estado, Marie Harf.

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