Administração da RTP demite-se, Governo aceita

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Governo aceito a demissão

O Conselho de Administração da RTP apresentou hoje o pedido de demissão ao Governo, numa reunião com o ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, pedido esse que foi aceite, informou o gabinete de Miguel Relvas.

A administração da RTP entrou em rota de conflito com o Governo na passada segunda-feira quando emitiu um comunicado afirmando que manifestou em “tempo oportuno” junto do Governo a sua discordância perante o cenário de uma concessão a um privado da empresa.

“O Conselho de Administração [CA] da RTP considera descabido do ponto de vista institucional a divulgação pública de opiniões favoráveis a um dos cenários ainda em análise, sentindo-se por isso obrigado a divulgar publicamente que manifestou, em tempo oportuno, a sua discordância relativamente a este cenário”, dizia a administração presidida por Guilherme Costa.

O CA da RTP afirmava ainda ter “um mandato de gestão para desenvolver o Plano de Sustentabilidade Económica e Financeira [PSEF], aprovado pela tutela no final de 2011”.

“Foi constituído um Comité de Acompanhamento do estudo detalhado das novas acções do PSEF e sua articulação com a decisão política sobre a privatização, com participação da tutela e dos consultores estratégicos e jurídicos. No âmbito desse Comité, o cenário da “concessão” é um dos modelos cuja análise foi pedida pela tutela”, acrescentava o comunicado.

A agitação em torno da RTP também mereceu reparos do director de informação da RTP, Nuno Santos, que afirmou que as recentes notícias sobre o futuro dos canais do Estado influenciam o trabalho na empresa.

“Aqui ninguém tem medo da mudança nem do futuro mesmo quando a ansiedade e as (aparentes) mudanças de rumo condicionam seriamente o trabalho”, afirmou numa nota no Facebook.

Numa entrevista à TVI, na quinta-feira da passada semana, o economista e consultor do Governo António Borges avançou com a possibilidade de concessionar a RTP1 a investidores privados, que considerou “muito atraente”, e disse que provavelmente a RTP2 iria fechar, embora tenha assegurado que nada está ainda definido sobre o futuro da empresa.

A partir desse momento o futuro da RTP transformou-se num vendaval político, com a oposição a tecer fortes críticas ao Governo.

O líder do PS, José António Seguro, afirmou mesmo que quando o PS voltasse a ser Governo a RTP voltaria a ser detida pelo Estado.

A possível concessão também causou mossas na coligação governamental, com vários membros do CDS a virem a público criticarem essa possibilidade.

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, veio a público garantir que o Governo vai estudar “sem tabus” tudo o que se relaciona com “o processo de alienação” da RTP previsto no programa do executivo.

“Não haverá tabus, quer dizer, tudo será estudado de forma a habilitar o Governo a uma decisão bem informada”, garantiu o primeiro-ministro , na capital britânica, na quarta-feira, onde assistiu à sessão de abertura dos Jogos Paralímpicos Londres2012.

A administração que agora sai é a mesma que o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, decidiu reconduzir para mais um mandato, num convite tornado público pelo governante em plena Assembleia da República, em Novembro último.

“Convidei o actual presidente do conselho de administração para se manter em funções, renovando o contrato”, disse o ministro em audição na reunião conjunta da comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais e do Orçamento, a 16 de Novembro.

O governante acrescentou acreditar que “o trabalho feito [pela administração da RTP] é significativo”. Guilherme Costa era o rosto do plano de sustentabilidade económica e financeira da RTP apresentado no final de Outubro de 2011 e aprovado pelo Executivo, e que teria uma implementação mais aprofundada em 2012.

Na altura, o ministro manifestou-se “profundamente convencido” de que o plano de sustentabilidade financeira da RTP iria “ter sucesso” e o apoio dos trabalhadores.

Durante a apresentação do plano de sustentabilidade económica e financeira da RTP, a 24 de Outubro de 2011, Guilherme Costa tinha afirmado que o canal remanescente da privatização iria ter receitas publicitárias, o que estava incluído na estratégia do gestor.

Mas quase um mês depois, e após Guilherme Costa ter aceite o convite do ministro para continuar na RTP por mais um mandato, Miguel Relvas afirmava que “o canal subsistente da RTP não conterá publicidade comercial”.

Uma contradição que foi desvalorizada por ambos os intervenientes, mas nessa altura falava-se da privatização de um dos canais generalistas da RTP.

Notícia actualizada às 20h11
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