Laurent Gbagbo toma posse como Presidente da Costa do Marfim

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Laurent Gbagbo sinaliza a sua alegria durante a tomada de posse Thierry Gouegnon/Reuters

O Presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, foi reinvestido no cargo depois do Conselho Constitucional ter invalidado o resultado da votação de 28 de Novembro e denunciou como intolerável a “ingerência política” das Nações Unidas, União Europeia, Estados Unidos e França, que não reconheceram a sua reeleição e consideram o seu rival, Alassane Ouattara, o legítimo vencedor das presidenciais.

A União Africana emitiu um comunicado em que diz rejeitar "qualquer tentativa de criar um facto consumado" e de impor um resultado diferente do validado pela comissão eleitoral. O Fundo Monetário Internacional anunciou também que só continuará a trabalhar com o Governo da Costa do Marfim se este for apoiado pelas Nações Unidas.

Estas tomadas de posição aconteceram depois de Gbagbo ter sido reempossado na presidência, durante a tarde, ao arrepio dos resultados confirmados pela comissão eleitoral.

“Nestes últimos dias, tive oportunidade de observar graves casos de ingerência”, declarou Gbagbo, na intervenção proferida na sua cerimónia de investidura no Palácio Presidencial de Abidjan. “Para que a nossa soberania não seja espezinhada, apelo à comunidade internacional que deixe de se ingerir nos nossos assuntos”, solicitou.

Na sexta-feira, o Conselho Constitucional da Costa do Marfim declarou Laurent Gbagbo como o vencedor das eleições presidenciais de 28 de Novembro, declarando a invalidade dos resultados certificados pela comissão eleitoral do país, que atribuíra a vitória ao rival Alassane Ouattara.

Ouattara, um muçulmano de 68 anos, liderava a contagem dos votos, com 54,1 por cento, contra os 45,9 por cento do evangélico Gbagbo, no poder desde 2000. Mas o Conselho Constitucional anulou os votos dos nove departamentos do Norte, controlados por Ouattara. Essa decisão catapultou Gbagbo de novo para a presidência e ameaça dividir mais o país, prolongando a crise política que dura há mais de uma década.

Sublinhando que o seu papel como Presidente é o de defender a lei e o Direito, Laurent Gbagbo disse que “jamais negociaria” a soberania da Costa do Marfim, numa referência às declarações de vários líderes internacionais que não aceitaram a sua declaração de vitória. “Nunca pedi a ninguém de fora para me dar posse”, frisou Gbagbo.

O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, manifestou a sua “profunda preocupação” pelos desenvolvimentos políticos dos últimos dias na Costa do Marfim. Aconselhou as autoridades e os actores políticos marfinenses a “fazer prova da sua responsabilidade e abster-se de qualquer acto de violência”. De acordo com as descrições da imprensa internacional em Abidjan, a capital já está tomada por um clima de violência.

Barroso reafirmou que a União Europeia entende que, com a maioria dos votos, Alassane Ouattara é o “vencedor legítimo” das presidenciais. “Associo-me às mensagens de felicitação da comunidade internacional a Alassane Ouattara, e saúdo-o como o vencedor legítimo destas eleições democráticas”, declarou Barroso, em comunicado.

Também de Londres surgiu um apelo para que “todos os partidos respeitem os resultados anunciados por uma comissão eleitoral independente e certificados pelo representante especial das Nações Unidas para a Costa do Marfim”.

O Reino Unido condenou as ameaças feitas contra o pessoal da Organização das Nações Unidas na Costa do Marfim – cujo representante, Youn-jin Choi, criticara a decisão do Conselho Constitucional, argumentando que a vitória de Gbagbo “não corresponde aos factos”. O chefe da diplomacia britânica, William Hague, lembrou que “foi a pedido de todos os partidos implicados nas eleições que as Nações Unidas foram mandatadas para apoiar o processo de paz e certificar as eleições”.

Notícia actualizada às 18h00
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