Geert Wilders, autor do polémico filme "Fitna", vai ser julgado por comentários anti-islâmicos

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Em Março de 2008, Winders publicou Fitna, o filme contra o Islão no site de partilha de vídeos LiveLeak, originando uma onda de protestos em todo o mundo islâmico DR

A justiça holandesa vai levar a tribunal o deputado de extrema-direita Geert Wilders por comentários anti-islâmicos. O líder do Partido da Liberdade deu a conhecer, em Março do ano passado, o seu polémico filme no qual relaciona passagens do Corão ao livro “Mein Kampf” de Adolf Hitler e no qual postula que os muçulmanos promovem a violência e o ódio contra as outras religiões.

“Num sistema democrático, o discurso do ódio é considerado tão sério que é do interesse geral... traçar uma linha clara”, indicou hoje um tribunal de Amesterdão.

Geert Wilders já reagiu à decisão da justiça e indicou que o julgamento é um “ataque à liberdade de expressão”. “A participação no debate público tornou-se uma actividade perigosa. Se alguém der a sua opinião, arrisca-se a ser processado”, disse, citado pela BBC.

Não só ele, mas todos os cidadãos holandeses que se oponham à “islamização” do seu país estarão a ser julgados, advertiu Geert Wilders. “Quem é que defenderá a nossa cultura, se eu for silenciado?”, acrescentou.

Os três juízes disseram que pesaram as “generalizações unilaterais” proferidas por Wilders e o seu direito à liberdade de expressão, e decretaram que o deputado foi muito além das tarefas normalmente conferidas aos políticos.

“O tribunal de apelo de Amesterdão ordenou que Geert Wilders seja julgado por incitar ao ódio e à discriminação, com base em comentários seus feitos em vários media acerca dos muçulmanos e das suas convicções”, indicou o tribunal em comunicado.

O tribunal indicou ainda que vai processar Geert Wilders por “insultar os crentes muçulmanos ao comparar o Islão e o Nazismo”.

Este tribunal reverte assim a decisão tomada no ano passado pelo Ministério Público, que tinha deliberado que os comentários feitos por Wilders fora do Parlamento – como contribuição para o debate sobre o Islão na sociedade holandesa – não constituíam nenhum crime.

O Ministério Público indicou hoje que não pode contornar a questão do julgamento, que vai mesmo acontecer, mas acrescentou que vai abrir uma investigação imediatamente.

Gerard Spong, um advogado holandês que se tem debatido para que Wilders seja levado à justiça, já veio saudar a decisão da justiça. “É um dia feliz para todos os seguidores do Islão que não querem ser atirados para o contentor do lixo do nazismo”, disse aos repórteres.

Polémica começou em Março do ano passado

Em Março de 2008, Winders publicou o filme contra o Islão no site de partilha de vídeos LiveLeak, originando uma onda de protestos em todo o mundo islâmico.

As cenas de abertura do filme “Fitna” mostram a capa do Corão seguidas de imagens dos ataques de 11 de Setembro de 2001, nos EUA; de 11 de Março de 2004, em Madrid e de Julho de 2005 em Londres.

Fotografias mostrando manifestantes muçulmanos empunhando cartazes em que se lê “Deus abençoe Hitler” e “Liberdade, vai para o Inferno” também constam do filme-polémica, que termina com uma declaração de princípios: “Párem com a islamização. Defendam a nossa liberdade”.

O primeiro-ministro Jan Peter Balkenende disse na altura que o filme associava erradamente Islão e violência e que não tinha outro objectivo que não fosse ofender.

Um ano antes do filme, Wilders tinha já descrito o Corão como um “livro fascista” e tinha pedido para ser banido “da mesma maneira que foi banido o ‘Mein Kampf’", numa carta publicada no jornal “De Volkskrant”.

Wilders tem vivido sob protecção policial desde que o realizador holandês Theo Van Gogh - também ele um crítico radical do Islão – foi morto por um radical islâmico em 2004, depois de ter realizado o filme “Submissão” em que era denunciada a situação das mulheres muçulmanas.

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