O primeiro-ministro condecorou ontem o ex-embaixador norte-americano em Lisboa Frank Carlucci com a Ordem do Infante D. Henrique, afirmando que a distinção é "um acto de justiça" e de gratidão para quem lutou pela democracia em Portugal.

"Já passou tempo suficiente para sermos objectivos e é por isso que o doutor Durão Barroso - que a propôs - e o senhor Presidente da República, que a concedeu, andaram bem ao decidir esta condecoração, a que me associo e o meu Governo, fazendo um acto de justiça", disse Santana Lopes após impor a condecoração a Carlucci na residência do cônsul-geral de Portugal de Nova Iorque.

"Chega um tempo em que é preciso fazer uma reconciliação nacional acerca da verdade histórica", frisou Santana Lopes, acrescentando que "o embaixador Frank Carlucci desempenhou um papel naqueles tempos conturbados" em que havia uma divisão entre o "mundo ocidental e o mundo liderado pela antiga União Soviética".

"Se não fosse a acção de Carlucci - disse Santana Lopes - Portugal poderia ter experimentado outro tipo de regime, outro tipo de ditadura depois daquele que enfrentou durante quase 50 anos".

O embaixador Frank Carlucci, por seu lado, declarou que o seu trabalho em Portugal durante e após o 25 de Abril de 1974 foi uma tarefa simples mas que o enche de orgulho.

"Fiz apenas uma coisa muito simples, que foi apostar em Portugal e no povo português. O que fiz foi convencer o meu Governo de que a democracia poderia resultar em Portugal, que podíamos ter confiança no povo português", disse Carlucci.

"O resto é história - prosseguiu o embaixador - o que temos é um pequeno país que derrubou um regime fascista, esteve à beira do comunismo, voltou atrás e implantou uma democracia funcional no espaço de dois anos e com poucas vidas humanas perdidas. Estou muito orgulhoso desse período", sublinhou.

A distinção de Frank Carlucci com a Ordem do Infante foi contestada em finais de Abril pelo PCP, que considerou que a atribuição de uma condecoração nacional ao ex-embaixador norte-americano em Lisboa constitui um "vergonhoso gesto de afrontamento aos valores de Abril e da soberania nacional".

Frank Carlucci, actualmente ligado ao grupo Carlyle - que foi um dos concorrentes através da Luso-Oil à alienação de mais de 40 por cento do capital da Galp - foi embaixador dos Estados Unidos em Lisboa entre 1975 e 1978.

Desempenhou igualmente as funções de vice-director da CIA (1978-1980) e de secretário da Defesa norte-americano (1987-1989).