“Esta candidatura é independente, não depende dos partidos”, diz Nóvoa

Em noite de apresentação da comissão da candidatura, liderada pelos três ex-Presidentes eleitos, António Nóvoa disse que vivemos tempos “dramaticamente excepcionais”.

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Sampaio da Nóvoa e Ramalho Eanes Miguel Manso

À medida que os lugares do Centro Olga Cadaval, em Sintra, se enchem de apoiantes de carne e osso, no ecrã do palco passam mensagens de apoio à candidatura de António Sampaio da Nóvoa. Caras mais e menos conhecidas, como as que estão na sala.

Se a questão do apoio do PS é um problema, hoje não se nota. Augusto Santos Silva apoia no ecrã, João Cravinho, Correia de Campos, Pinto Ribeiro, Rui Vieira Nery e Mário Lino (para só falar de ex-governantes daquele partido) estão na sala. Outro dirigente socialista, Miguel Alves, autarca de Caminha, lembrou o candidato por outros atributos: O "Tómané", que nasceu na vizinha Valença, era bom de bola e tinha as "pernas tortas". O autarca arrancou gargalhadas até quando citou palavras sérias da rapper Capicua, mas a casa quase veio abaixo quando citou camaradas seus que lhe perguntavam se "o PS vai apoiar o Tómané". Seria, afirma Alves, "um sinal de inteligência e de patriotismo".

Mas se essa questão é importante, o grande trunfo da candidatura parece ser o apoio dos três ex-Presidentes – Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio – eleitos entre 1976 e 2006. Não só porque essa é uma convergência rara (Eanes presidiu à comissão de honra de Cavaco Silva quando Soares se candidatou pela última vez), mas porque situa a candidatura onde Sampaio da Nóvoa a quer: “Disse no Trindade, em Abril. Repeti no Rivoli, em Maio. Insisto agora,uma vez mais, para que não haja dúvidas: esta candidatura é independente, na sua raiz, na sua organização, na sua dinâmica. É feita de baixo para cima, não depende dos partidos, ainda que agradeça e deseje o apoio de todos”, afirmou, logo no início do seu discurso. 

Eanes, que foi recebido com palmas quando chegou ao anfiteatro, reforçou a ideia no seu discurso. Entre as várias razões que usou para explicar o seu apoio a Nóvoa elencou estas três: “Porque descomprometido está com as elites político-partidárias, primeiras responsáveis pela nossa nefasta situação. Porque compromissos não tem com os lobbies que têm desestruturado o Estado, a economia, destruído a unidade popular indispensável à mobilização conjunta de um povo no processo de renovação modernizadora do País. Porque livre está de compromissos partidários que possam inibir a sua liberdade de acção política.”

Nóvoa agradeceu aos ex-Presidentes (apenas Eanes estava fisicamente presente): ”São exemplos maiores de Portugal e da liberdade, da nossa vida democrática, exemplos que aumentam a minha responsabilidade, a minha obrigação de estar à altura de uma candidatura que é feita em nome de um país mais justo e mais solidário, com vida dentro, com esperança dentro, em nome de um país no qual cada português, cada portuguesa, tenha direito à felicidade e à dignidade.”

“Esta é uma candidatura que não se esconde, que não se enreda em calculismos e oportunismos, que não desvaloriza as presidenciais, transformando-as numa mera “segunda volta” das legislativas, que não usa as presidenciais para disputas entre os partidos ou dentro deles”, prosseguiu o candidato, antes de passar ao conteúdo político da noite. 

Resumindo em duas “impressões” as suas últimas semanas de volta pelo País, Nóvoa aponta “a devastação social e económica do nosso país, a pobreza extrema de tantos portugueses, o desemprego”. “Vivemos um momento excepcional, dramaticamente excepcional, das nossas vidas. A política não pode ser sacrificada no “altar do dinheiro”, a democracia não pode desaparecer nos meandros da finança.” 

A segunda impressão trazia um recado para Belém, e para Cavaco Silva: “Os portugueses sentem-se abandonados, como se os políticos, a começar pelo Presidente da República, tivessem desistido deles, tivessem desistido de os proteger.”

A última parte do discurso voltou a sublinhar a importância de esta ser uma candidatura “suprapartidária”: “Não tendo origem na vida partidária, disponho de maior liberdade para dialogar com todas as forças sociais e políticas e para, com elas, celebrar compromissos de futuro para Portugal.”

Elegendo quarto temas prioritários (Europa, dívida, conhecimento e emprego), Nóvoa falou da actualidade e deixou antever o que pensa fazer se ganhar as eleições. “Como Presidente tenho a obrigação de fazer mais, tenho de ajudar a construir, sem me substituir ao Parlamento ou ao Governo, compromissos nacionais em torno do combate às desigualdades, ao desemprego, à desertificação e ao despovoamento das zonas rurais. Ninguém pode ser Presidente se não estiver disposto a travar uma batalha diária contra as injustiças sociais. É isso que farei, sem descanso, pois essa tem de ser a causa maior de um Presidente da República.”

Esse foi um dos exemplos de “uma presidência de tipo novo” que Nóvoa promete, capaz de “construir novos entendimentos de futuro, para abrir o leque das alianças possíveis entre partidos”, mas também exigir “um combate mais duro à corrupção, não permitindo nunca que o Estado seja capturado por interesses privados”. 

O discurso de Eanes, pessimista, criticou  “uma Europa de presente dúbio, sem propósito, capacidade e políticas de solidária implicação” e um país sem “projecto, nosso, de estratégica racionalidade e de capaz mobilização popular”.

Entre os – muitos - elogios que deixou ao candidato, o ex-Presidente terminou o seu discurso enaltecendo em Nóvoa o seu “democrático patriotismo e honradez”.

Notícia corrigida às 17h34 de quinta-feira, 16 de Julho

N.R. Por lapso, o nome do ex-ministro da Justiça do PS Vera Jardim foi incluído entre um grupo de ex-governantes socialistas presentes na apresentação pública da comissão de candidatura de António Sampaio da Nóvoa à Presidência da República. Vera Jardim não esteve presente no Centro Olga Cadaval e não apoia a referida candidatura. Ao próprio e aos nossos leitores o nosso pedido de desculpas. 

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