BCP passa de prejuízo para lucro de 264,5 milhões

Resultados dos nove primeiros meses do ano. Nuno Amado diz que “a política pode ser mais à direita, ou mais esquerda” desde que haja confiança nos investidores

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Nuno Amado espera que haja "bom senso" na aplicação do imposto extraordinário à banca proposta pelo novo governo na Polónia Rita Chantre

“É importante que haja estabilidade política e fiscal” e garantia de respeito pelos compromissos internacionais para dar confiança aos investidores. Foi assim que Nuno Amado, presidente do BCP, analisou a actual situação política, durante a divulgação das contas consolidadas dos primeiros nove meses, com o grupo a passar de prejuízos (109,5 milhões de euros no período homólogo) para lucros de 264,5 milhões de euros.

Durante a conferência de imprensa de divulgação das contas consolidadas dos primeiros nove meses do ano, ao lhe ser pedida a opinião sobre o actual contexto politico, Nuno Amado começou por dizer que não ia falar sobre o tema. Mas acabou a tecer considerações: “É importante que haja estabilidade política e fiscal” e “estabilidade de compromissos” sobre as questões “mais importantes” que foram negociadas com “as autoridades que nos acompanham e que nos financiam”. Estas são condições essenciais para que os investidores continuem a ter “confiança” no país para manter o financiamento. Nuno Amado observou que “acredita” que assim será. Com esta garantia “a política pode ser mais à direita, ou mais esquerda.”

Já sobre a eventualidade do quadro político polaco (o partido Lei e Justiça, eurocéptico venceu as eleições) poder afectar as contas do Millennium Bank (onde o BCP possui 50% do capital, Amado disse esperar por um compromisso negocial, que torne possível um acordo “razoável” entre Governo e banca. E salientou que, sendo a aplicação do imposto extraordinário à banca uma proposta do novo governo polaco, a sua expectativa é que “haja bom senso”. A solução terá “obviamente” reflexo no Millennium Bank (que contribuiu entre Janeiro e Setembro com 118 milhões de euros para o lucro consolidado do grupo português). Mas lembra que a partir do momento em que o imposto extraordinário foi anunciado o valor da acção passou a reflectir o seu impacto. “Não vai ser preciso um aumento de capital no Millennium Bank”, que está “resiliente” para poder enfrentar eventuais obstáculos.

O mesmo se passa com o BCP. Nuno Amado lembra que o banco em Portugal passou de uma trajectória longa de prejuízos para lucros, pelo que não vai necessitar de um aumento de capital, “nem há operações de mercado previstas a curto prazo.” Os rácios de capital do BCP – os regulamentares estão em 13,2% e o rácio de capital (fully implemented) está em 10% -  alinhados com as orientações dos reguladores e, no seu entender, “cobrem”  os valores finais que vão ser definidos no final do ano pelo BCE.

“Continuámos uma recuperação sustentada do resultado core, isto é, sem extraordinários, sendo de salientar o contributo positivo da actividade em Portugal, algo que já não acontecia há vários anos”, observou o banqueiro.

Para Amado os lucros dos primeiros nove meses do ano, de 264,5 milhões (em 2011 o banco registou um prejuízo anual de 850 milhões), foram classificados de “muito interessantes”. “Estamos a ter trimestre a trimestre uma recuperação clara”, disse, ainda que “o ambiente continue muito difícil e complexo”.  A actividade internacional ajudou aos lucros, com 149,3 milhões de euros. 

O banqueiro justificou a recuperação dos resultados pelo aumento da margem financeira, que subiu 20,9% para 956,7 milhões de euros e pelo avanço do produto bancário, que subiu 17,3%, que beneficiou da melhoria da margem  e dos ganhos em operações financeiras (529 milhões de euros) fruto do encaixe da venda de dívida pública nos meses iniciais do ano. Já os custos operacionais reduziram-se 3,8% para 825,4 milhões de euros e o valor das imparidades caiu 28,2% para 628 milhões de euros. Em termos de solidez, o grupo chegou ao final de Setembro com um rácio de 13,2% (mais 0,4 pontos).  

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