Presidente da Volkswagen nos EUA atira responsabilidades para sede na Alemanha

Autoridades alemãs fizeram buscas nas instalações da empresa no âmbito de investigações sobre uma eventual fraude.

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Horn compareceu voluntariamente perante os congressistas MANDEL NGAN/AFP

Começou o jogo da batata quente. O responsável pela Volkswagen nos EUA, onde o escândalo das fraudes foi descoberto há três semanas, reconheceu que já sabia desde 2014 que havia um problema com as emissões de poluentes. Mas garantiu que só recentemente ficou a saber que alguns carros a gasóleo tinham um sistema para enganar os testes e afirmou que este foi desenvolvido e instalado na Alemanha.

Ouvido esta quinta-feira no Congresso americano, Michael Horn, o presidente da subsidiária americana do Grupo Volkswagen, admitiu ter sido informado sobre o estudo da universidade de West Viriginia que inicialmente levantou as suspeitas sobre os motores diesel do grupo. O estudo foi publicado na Primavera de 2014. “Fui informado de que havia um possível incumprimento de emissões que podia ser corrigido”, afirmou. No entanto, disse também aos congressistas que ficou a saber da existência do software que engana os testes apenas poucos dias antes de uma reunião com as autoridades ambientais, que aconteceu a 3 de Setembro.

Horn compareceu voluntariamente na comissão de energia e comércio. Evitou muitas das questões técnicas, afirmando não ser engenheiro, e remeteu a origem do escândalo para a Alemanha. 

O executivo disse que a instalação do sistema de fraude não foi uma decisão aprovada pelos gestores da empresa, mas antes uma acção isolada de engenheiros – uma declaração acolhida com cepticismo por alguns congressistas. “A investigação está em curso, mas não foi uma decisão da empresa, tanto quanto sei”, declarou Horn. “Alguns engenheiros de software puseram isto no motor por alguma razão, e eu também gostaria de o descobrir. Isto foi algo feito por alguns indivíduos”. O gestor frisou que as pessoas a que se referia não estavam sob a sua supervisão.

A multinacional nomeou um novo presidente executivo, mudou as funções de gestores de topo e suspendeu alguns engenheiros, mas ainda não apontou responsáveis. Muitos congressistas pareceram insatisfeitos com o facto de Horn não conseguir dar detalhes sobre as investigações internas do grupo, que estão a ser conduzidas a partir da sede. A empresa já avisou que este não será um processo rápido e que não pretende divulgar informação incompleta ou preliminar.

Horn também não agradou os membros do congresso ao dizer que o plano de reparação de automóveis naquele país (onde perto de meio milhão de carros estão afectados) é um processo que poderá demorar dois anos, um prazo mais alargado do que o antecipado esta semana pelo presidente executivo do grupo, Matthias Mueller. Este afirmou que espera ter as alterações aos motores concluídas até ao final de 2016 e que pretende arrancar com este processo em Janeiro, assim que os detalhes técnicos forem aprovados pelas autoridades reguladoras na Alemanha. Os pormenores da solução proposta pela empresa ainda não são conhecidos. Para alguns modelos, contudo, a empresa terá de encomendar e montar novos componentes, o que encarece a operação. Noutros casos, uma alteração do software será suficiente.

Em alguns momentos durante o inquérito, Horn teve oportunidade de sublinhar que os carros são seguros para circular nas estradas, o que (embora isso não tenha sido mencionado) diferencia este caso do de outras marcas, em que estavam em causa elementos como os airbags e o sistema de ignição, cujas falhas resultaram em acidentes mortais. Por outro lado, os congressistas frisaram que, no caso da Volkswagen, o problema foi intencional. 

Cada dia tem trazido novidades sobre um escândalo que se está a desenrolar há quase três semanas. E raramente as notícias são boas para o fabricante alemão.

Também nesta quinta-feira, as autoridades alemãs fizeram buscas à sede do grupo, em Wolfsburg, e a outras instalações da empresa. A acção faz parte de uma investigação sobre a possibilidade de fraude, desencadeada na sequência de queixas apresentadas ao Ministério Público. Há também investigações em curso noutros países, como é o caso de França e Itália. 

 

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