O barulho da esperança

O colapso do BES/GES fez abalar muitos negócios e pessoas, fora do circuito da família Espírito Santo, desde o pequeno fornecedor da nova unidade hoteleira da Comporta que ficou sem negócio até aos investidores. Mas não se ouve, por exemplo, falar dos pequenos accionistas que aderiram ao enorme aumento de capital que o BES fez pouco antes das verdadeiras contas serem reveladas e da intervenção das autoridades

Estes também perderam poupanças, ou ficaram responsáveis por pagamentos futuros caso se tenham endividado para apostar no futuro do segundo maior banco privado. Para todos os efeitos, esses investidores também foram enganados. A diferença é que sabem que o único caminho que têm a percorrer, se assim o entenderem, é o da justiça. De resto, sabiam, ou tinham de saber, que havia um risco na decisão que tomaram.  

Já o caso dos emigrantes lesados é diferente, porque foram enganados de tal maneira, na voragem de angariar dinheiro que marcou os últimos dias do BES, que nem o Novo Banco, que herdou tudo o que de bom havia no BES, nem o Banco de Portugal colocam dúvidas sobre a justiça de os reembolsar. Isto, numa altura em que as duas instituições, banco e regulador, se protegem com unhas e dentes de qualquer antecedente que sirva de exemplo contra si em futuros processos judiciais. Seja porque desvaloriza o activo, e afecta também o accionista Fundo de Resolução, seja porque pode acabar por afectar a imagem (ou mesmo as contas) do Banco de Portugal.

Mesmo sabendo que os emigrantes têm a razão do seu lado, a proposta fica abaixo do valor aplicado, e é paga em prestações. Uma justiça pequena, e já fatiada. Quem aceita, provavelmente fá-lo por cansaço, e com o pensamento de que é melhor receber algum do que o risco de poder vir a perder tudo. Baixa-se os braços e descansa-se um pouco.

Já aos lesados do BES/GES, que compraram produtos ligados à vertente não financeira, num esquema mais manhoso, espera-os o continuar da batalha. Com as suas manifestações, têm conseguido manter o tema na agenda de forma ruidosa, apoiados pelos directos das televisões. Em época eleitoral, promovem novas acções. Depois, provavelmente terão como alvo o novo Governo. Se não forem apoiados, o maior certo é trocarem o barulho da esperança pelo silêncio do desespero. Fora da ribalta, restará a via sacra dos tribunais. Ou, apenas, o cair dos braços.

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