Ao terceiro dia a depreciar o yuan, China diz que o ajustamento terminou

Banco central chinês garante que não há necessidade de continuar a desvalorizar a moeda para apoiar as exportações.

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AFP/ Philippe Lopez

As autoridades chinesas tentam conter os efeitos causados pela desvalorização do yuan e, em declarações aos jornalistas, garantem que o período de ajustamento está “basicamente concluído”.

Nesta quinta-feira, dia em que o Banco Popular da China (BPC) voltou a depreciar o yuan 1,1%, a mesma instituição deu uma rara conferência de imprensa em que assegurou que a moeda chinesa não voltaria a cair.  

Ao terceiro dia consecutivo a desvalorizar a unidade monetária, a vice-governadora do BPC, Zhang Xiaohui, citada pelo Financial Times, disse que a situação económica, tanto doméstica como internacional, não justifica a “continuidade da depreciação da taxa de câmbio” do yuan.

Na terça-feira, o BPC surpreendeu os mercados ao mexer na taxa de referência do yuan, baixando 1,9%, numa medida que, assegurou, não iria ser repetida. Ontem voltou a baixar a taxa 1,6% e 1,1% nesta quinta-feira, totalizando uma desvalorização de 4,5% face ao dólar desde que começou a intervenção.

A acção do banco central chinês foi interpretada pelos mercados como uma tentativa para impulsionar a indústria exportadora doméstica (na qual está alicerçado o crescimento da economia chinesa) ao tornar mais baratos os produtos.

Com a economia chinesa a desenvolver-se abaixo do esperado, Zhang Xiaohui, citada pela agência chinesa Xinhua, explicou que "havia um fosso de 3% entre a cotação do yuan e as expectativas do mercado” e que o “ajustamento” está agora “basicamente concluído”. A responsável acrescentou que o banco central “tem o poder para manter a estabilidade básica do yuan e garantir que se mantém a um nível razoável e equilibrado”.

O BPC avalia que a forte conjuntura económica doméstica, o superavit comercial, a situação orçamental sólida e as vastas reservas cambiais fornecem um “forte apoio” à taxa de câmbio.

Na abertura da sessão de hoje, um dólar valia 6,401 yuan, mais 0,285 (4,5%) que no início da semana. Todos os dias Pequim fixa uma taxa do yuan face ao dólar, sendo que permite que, ao longo do dia, o yuan valorize ou desvalorize 2%. A descida da taxa de referência dos últimos três dias, que se tinha mantido relativamente estável até então, constituiu a maior mexida das últimas duas décadas.

Apesar de a autoridade monetária chinesa anunciar que o processo de depreciação da moeda está concluído, um membro não identificado de um think-tank chinês que aconselha membros do governo disse à Reuters que o yuan tem margem para desvalorizar até 10%, uma vez que deve “haver depreciação suficiente, de outra forma não será possível estimular as exportações”. A agência referia que, dentro do aparelho de estado do gigante asiático, existiam pressões para depreciar ainda mais a moeda, com vista a impulsionar o sector exportador e atingir a meta de crescimento de 7% estabelecida para 2015.

Outro vice-governador do BPC, Yi Gang, disse citado pela Reuters que a alegação de o yuan cair ainda para 10% é “infundada” e que não há necessidade de ajustar a taxa para apoiar as empresas que vendem para o exterior. 

Na quarta-feira, os indicadores económicos relativos a Julho voltaram a dar sinais preocupantes, com a economia a desacelerar e as exportações a decrescer em termos homólogos, o que reforça as suspeitas dos investidores de que os chineses estejam a manter a moeda propositadamente baixa. Por outro lado, a quebra do yuan encarece o preço dos produtos importados, o que faz com que os chineses percam poder de compra.

Como principais parceiros comerciais da China, Europa e Estados Unidos saem prejudicados com a perspectivas de o gigante asiático perder capacidade importadora. Face à desvalorização do yuan, os especialistas avaliam que os mais afectados são os fabricantes de automóveis, produtos tecnológicos e de luxo.

A intervenção do BPC alvoroçou os investidores, mas a comunicação de ontem veio repor alguma calma nos mercados. Se na quarta-feira todas as empresas cotadas no Euro Stoxx 50 fecharam no vermelho, ontem o índice encerrou a ganhar 0,91%. A LVMH (holding especializada em produtos de luxo, responsável por marcas como Louis Vuitton ou Moët et Chandon), uma das cotadas que mais caiu na sessão anterior, liderou os ganhos com 2,92%. A Volkswagen, que perdeu 6,13% nas últimas duas sessões, fechou com um ligeiro ganho de 0,37%.

Também a inverter a tendência de quarta-feira, quando fecharam o dia a perder, as principais praças europeias registaram ganhos, com a excepção de Londres (que perdeu 0,04%). Já o PSI-20 fechou a ganhar 2,05%. 

Pela primeira vez em vários meses, nesta quinta-feira o euro ultrapassou a barreira de 7 yuan. A moeda única recua face ao dólar, que continua pressionado pela desvalorização chinesa. 

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