Endividamento elevado impede recuperação do rating português

Standard & Poor’s não dá sinais de querer retirar rating do “lixo” nos próximos tempos.

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A previsão da S&P para a economia espanhola piorou para o dobro em relação ao relatório de Julho Brendan McDermid / Reuters

O elevado nível do endividamento das empresas, das famílias e do Estado continua a pesar na economia portuguesa e a ser o principal obstáculo para que a Standard & Poor’s faça regressar o rating de Portugal para um nível acima de “lixo”.

A agência de notação financeira internacional anunciou esta sexta-feira que mantém o rating atribuído à República Portuguesa em BB e que a tendência fica também inalterada em “estável”, o que significa que uma melhoria da classificação não está ainda no horizonte. O rating de nível “lixo” (abaixo de BBB-) deverá assim prolongar-se durante mais algum tempo.

“Os ratings continuam limitados pelo que consideramos ser um muito alto endividamento privado e público, um balanço económico com o exterior fraco e um fraco mecanismo de transmissão monetária que parece impedir partes do sector empresarial português de melhorar mais a sua competitividade ao nível dos custos, a par com pressões deflacionistas”, explica a Standard & Poor’s.

É verdade que a agência apresenta projecções tanto para a economia como para as finanças públicas que são ligeiramente mais negativas do que o Governo. Prevê um crescimento de 1,3% e um défice de 3% em 2015, ao passo que o Executivo aponta para 1,5% e 2,7% respectivamente.

Mas esses não são os factores decisivos na decisão da Standard & Poor’s de não subir o rating, sem dar sequer qualquer sinal de que o poderá subir no futuro próximo. O problema é mesmo as grandes dificuldades que Portugal revela para gerir o elevado endividamento acumulado.

Por um lado, diz a agência, a desalavancagem da dívida no sector privado deverá continuar a ser um processo lento por dois motivos: as taxas de juro aplicadas às empresas continuam a ser mais altas do que noutros países e as taxa de inflação muito baixa faz com que o valor real da dívida se fortaleça. “Consideramos que o elevado endividamento pode não diminuir de forma rápida em Portugal, em parte por causa da sua muito baixa inflação, diz a agência.

Por outro lado, o facto de a economia europeia estar agora com um crescimento mais lento faz com que o excedente externo obtido recentemente possa nos próximos tempos vir a diminuir.

Na nota publicada esta sexta-feira, a Standard & Poor’s diz que no futuro o rating de Portugal pode subir se o Governo continuar a implementar reformas estruturais, o défice cair de acordo com as expectativas actuais e se “uma desalavancagem ordeira do sector privado acelerar por via de uma melhoria pronunciada e sustentada das condições de crédito, acompanhada da restauração dos mecanismos de transmissão monetária”.

Pelo contrário, o rating pode descer se a implementação de reformas esmorecer, se as políticas europeias deixarem de apoiar o financiamento da economia portuguesa e se a posição orçamental do Estado se desviar significativamente das actuais expectativas. 

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