Katainen tenta fugir da imagem de austeridade e defende mais investimento

Ainda assim, o antigo primeiro-ministro finlandês defendeu que primeiro deve vir a estabilidade e só depois o investimento.

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Jyrki Katainen é candidato a vice-presidente da Comissão Europeia Eric Feferberg/AFP

O candidato finlandês a comissário europeu defendeu nesta terça-feira que a Europa deve combinar uma política de responsabilidade orçamental com um aumento do investimento, recusando assumir a imagem de apoiante da austeridade que o seu percurso à frente do Governo finlandês lhe deu.

Jyrki Katainen foi o escolhido por Jean-Claude Juncker para ocupar a vice-presidência da Comissão Europeia, ficando a cargo da coordenação das questões relacionadas com o crecimento, emprego, investimento e competitividade. O comissário dos Assuntos Económicos e Financeiros, Pierre Moscovici, é um dos que estará sob a coordenação de Jyrki  Katainen.

Entre 2011 e 2014, Katainen foi primeiro-ministro da Finlândia, surgindo como um dos principais apologistas da política de austeridade aplicada nos países da periferia da zona euro, como Portugal. O Governo finlandês exigiu nessa altura mais garantias da Grécia e de Portugal antes de garantir os empréstimos que esses países tinham negociado com os fundos europeus.

Por isso, a nomeação de Katainen para um cargo com competências na área económica gerou muitas reticências entre os deputados europeus dos partidos mais críticos da estratégia de austeridade seguida pela Europa. Constituiu, ao mesmo tempo, uma esperança para os partidos defensores da austeridade de que haveria um contra-peso para o socialista Moscovici que tem a seu cargo a pasta dos orçamentos nacionais.

Esta diferença de opiniões foi notória na audição do candidato a comissário que teve lugar nesta terça-feira no Parlamento Europeu. À esquerda, principalmente dos deputados pertencentes a países onde esteve a troika, foi questionado sobre o seu papel como primeiro-ministro da Finlândia na imposição de uma política de austeridade na Europa e sobre se a prioridade deve ou não agora mudar-se para o investimento. À direita, especialmente dos países do centro da Europa, a preocupação centrou-se no controlo que deve ser feito às decisões de investimento público.

Katainen, a tentar obter a aprovação dos deputados europeus, tentou não alienar nenhuma das parte. Em resposta à esquerda, fez questão de rejeitar a imagem de defensor rígido da austeridade e apresentou o modelo social na Finlândia como prova. “Não me reconheço na forma como algumas vezes tenho sido descrito. A Finlândia não é como o faroeste”, afirmou Katainen, lembrando que o seu país tem um dos mais fortes sistemas de segurança social, um sistema educativo muito elogiado e um nível de desigualdade muito baixo.

Katainen garantiu ainda que as reticências do Governo finlandês a aprovar os pacotes de ajuda financeira à Grécia e a Portugal se deveu apenas a promessas eleitorais do partido da coligação e que foi ele, “com muitos custos para a popularidade”, que levou esse apoio ao parlamento.

O candidato a vice-presidente apresentou-se igualmente como um defensor de mais investimento, incluindo o público, como forma de estimular a economia europeia. Katainen foi criticado por diversos deputados por não apresentar em pormenor qual a sua estratégia, nomeadamente como é que irá reforçar o investimento ao mesmo tempo que pretende reduzir a dívida.

O antigo primeiro-ministro finlandês limitou-se a repetir por diversas vezes que “é preciso combinar uma política orçamental responsável com a necessidade de mais investimento”. “Já não estamos numa situação de pânico. Estamos numa fase em que temos de colocar mais enfase no investimento, público e privado”, disse, embora mais tarde assinalando que é necessário “reduzir a dívida” e que “é preciso evitar uma nova situação em que alguns países coloquem todos os outros países em risco”. “Primeiro vem a estabilidade e depois o investimento”, defendeu.

Katainen defendeu que o dinheiro do investimento “deve vir essencialmente dos países com excedentes”, não dizendo exactamente o devem fazer países como Portugal, e que a aposta deve também passar por um melhor uso do orçamento da União Europeia.

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