Amnistia condena passividade europeia no Mediterrâneo e reclama meios para salvar imigrantes

“Não conheceremos nunca o número exacto de vítimas, porque muitos dos corpos ficam desaparecidos no mar.”

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Organização acusa Europa de "olhar para o lado" FRANCESCO MALAVOLTA/AFP-Arquivo

O aumento do número dos que morrem afogados no Mediterrâneo, ao tentarem chegar à Europa, não é apenas o resultado do agravamento da instabilidade no Médio Oriente, nem da degradação da situação na Líbia. É também efeito das políticas europeias, denunciou a Amnistia Internacional, que defende um reforço dos meios de busca e salvamento.

Desde o início do ano, mais de 2500 pessoas provenientes do Norte de África morreram afogadas ou desapareceram no Mediterrâneo, segundo uma estimativa da organização de defesa dos direitos humanos, constante de um relatório divulgado esta terça-feira. Na véspera a Organização Internacional para as Migrações calculou em mais de três mil o número de mortos no mar entre a África e a Europa, desde Janeiro.

“Não conheceremos nunca o número exacto de vítimas, porque muitos dos corpos ficam desaparecidos no mar”, constata a Amnistia, que acusa a União Europeia de passividade e associa o aumento do número de imigrantes mortos no mar ao progressivo encerramento das fronteiras terrestres e à falta de vias legais e seguras para a entrada de imigrantes e refugiados.

A divulgação do relatório Vidas à deriva. Refugiados e migrantes em perigo no Mediterrâneo acontece quando passa um ano sobre a morte de cerca de 400 mortos ao largo da ilha italiana de Lampedusa.

 “O balanço no Mediterrâneo agrava-se, enquanto a Europa olha para o lado”, declara a organização de defesa dos direitos humanos, que denuncia a incapacidade da União Europeia para chegar a acordo sobre acções que impeçam o elevado número de mortes.  

A Amnistia aplaude o esforço da Itália, que lançou a operação Mare Nostrum e destacou uma importante parte da sua Marinha para operações de busca: “Em 2014, mais de 130 mil refugiados e migrantes atravessaram ilegalmente as fronteiras meridionais da Europa por mar. Foram praticamente todos apoiados pela Marinha italiana.”

Mas a Itália já anunciou a intenção de pôr fim à operação, em Novembro. A Comissão Europeia anunciou que planeia lançar a denominada "operação Triton". Mas fonte europeia citada pela AFP disse que seria um “complemento não uma substituição” da Mare Nostrum, o que preocupa a organização.

A Amnistia diz que a falta de entendimento entre Itália e Malta sobre as competências de uma e outra compromete a eficácia das operações de busca e salvamento, mas considera que o problema ultrapassa as capacidades desses dois países.

"A Europa não pode ficar indiferente ao drama que se desenrola à sua porta”, afirma John Daluissen, responsável pelo programa Europa e Ásia Central da Amnistia. “O que os países da UE devem fazer com urgência é [lançar] um número adicional de navios de busca e salvamento no Mediterrâneo central, munidos de um mandato claro para o salvamento de vidas humanas em alto mar e de recursos necessários para isso.”

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