OCDE revê crescimento português em alta, mas alerta para risco de deflação

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Taxa de desemprego em queda ligeira em Portugal e na Europa. Adriano Miranda

Apesar de estar agora bastante mais optimista do que há seis meses em relação ao crescimento da economia portuguesa, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) continua a deixar Portugal como o único país sujeito a um resgate que irá crescer menos que a média europeia este ano e reforça os alertas em relação aos riscos de deflação, colocando a previsão para a variação dos preços pela primeira vez em terreno negativo.

No seu relatório semestral sobre a economia mundial, a OCDE prevê que Portugal cresça 1,1% em 2014, uma revisão em forte alta face aos 0,4% que previa há seis meses. As previsões para o crescimento económico português ficaram agora muito próximas das mais recentes estimativas do Governo, que são de 1,2% em 2014. Para 2015, a OCDE antecipa um crescimento de 1,4%, acima dos 1,1% anteriormente previstos.

Em relação às previsões do Governo, a OCDE é mais pessimista no que diz respeito à evolução da dívida pública, mas é mais optimista em relação ao emprego. A previsão da OCDE para o desemprego este ano é de uma descida mais acentuada, para os 15,1% . As previsões do Governo e da troika apontam para uma taxa de 15,4%. As previsões do desemprego para 2015 são coincidentes com as do Governo e dos credores, ou seja, 14,8%.

No relatório, é realçado o desempenho positivo recente da economia portuguesa, mas sempre com grandes cautelas. "Tendo em conta as recentes surpresas positivas que tivemos sobre o PIB, o emprego e as exportações, a recuperação pode materializar-se mais rapidamente do que o esperado, mas a sua evolução permanece frágil", afirma a OCDE, que revela ainda não ter a absoluta confiança na sustentabilidade de uma retoma baseada nas exportações e na melhoria das condições globais de financiamento na Europa periférica. "Os riscos estão essencialmente relacionados com a sustentabilidade dos desenvolvimentos recentes. As exportações de combustíveis provocadas pelo investimento numa refinaria representaram uma parte importante do crescimento das exportações, mas os limites da capacidade instalada já foram atingidos", exemplifica o relatório.

Inflação negativa
Outro dos motivos para preocupação apresentados pela OCDE são as ameaças crescentes de um período persistente de inflação baixa em Portugal, ou mesmo de deflação. A entidade sedeada em Paris tornou-se mesmo na primeira entidade a apontar para uma taxa de inflação negativa em Portugal no decorrer do presente ano.

Nos últimos meses, os dados divulgados pelo INE mostraram que a inflação homóloga já está em terreno negativo. No entanto, até agora, as previsões têm apontado para uma recuperação dos preços suficientemente rápida para permitir que no total de 2014 a variação não seja negativa.

Agora, a OCDE prevê uma taxa de inflação de -0,3% este ano, que sobe para 0,4% em 2015. Estes números preocupam porque um período muito longo de taxas de inflação tão baixas pode significar que uma economia caiu na armadilha de deflação, ficando com muito maior dificuldade em gerar crescimento, investimento, emprego e rendimentos para pagar dívidas.

A OCDE diz acreditar que a descida de preços em Portugal possa ser temporária, mas afirma que "como a travagem da economia é e continuará a ser significativa, a inflação deverá manter-se muito baixa, existindo o risco de deflação, o que tornará a redução da dívida mais difícil".

Este é um alerta que não é feito só para Portugal - apesar de apenas Portugal e a Grécia ficarem com previsões de inflação negativa este ano. Toda a zona euro é vista pela OCDE como estando a correr o risco de entrar numa situação de deflação. É por isso que volta a ser feito o apelo ao Banco Central Europeu (BCE) para que seja mais agressivo nas medidas que toma. Uma taxa de juro a zero (actualmente está em 0,25%) ou medidas de carácter extraordinário como a compra de activos são recomendadas pela OCDE.

Os conselhos são dados a dois dias de uma reunião do Conselho de Governadores do BCE onde existe a expectativa de que a entidade liderada por Mario Draghi possa decidir passar de novo à acção.

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