Licenciados sofreram a maior queda nos salários em 2013

As remunerações médias recuaram 1,9% no último ano, mas entre os licenciados a queda foi de quase 6%. As áreas onde se criou mais emprego foram as que tiveram recuos mais significativos.

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Sector dos serviços tiveram aumento do emprego, mas salários caíram. PÚBLICO

Os trabalhadores com o ensino superior têm, em média, salários mais elevados do que os restantes, mas no último trimestre de 2013 foram os que sofreram um maior ajustamento nos salários. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que o rendimento salarial médio líquido dos que frequentaram o ensino superior caiu quase 6%, acima da redução de 1,9% sentida pelo total dos trabalhadores por conta de outrem.

Entre os últimos trimestre de 2008 e de 2013, os salários tiveram um incremento global de 5,7%, mas à medida que o tempo foi passando a situação foi-se degradando. Entre 2011 e 2012, os rendimentos dos salários tiveram um aumento de 1,8%, para 824 euros, mas entre 2012 e 2013 verificou-se uma travagem a fundo e os salários recuaram 1,9%, correspondendo agora a uma média de 808 euros mensais líquidos.

Tânia Silva, responsável do Hay Group pelos estudos salariais, confirma que tem vindo a verificar-se um “decréscimo” das retribuições e aponta duas razões. Por um lado, há mais recursos disponíveis, o que reduz o custo da mão-de-obra. Por outro, quando dentro de uma empresa os trabalhadores passam de funções técnicas para funções de gestão têm um aumento retributivo menor.

No caso específico dos licenciados, cuja remuneração média era de 1251 euros mensais em 2013, menos 75 euros do que no ano anterior, “há um decréscimo geral em todas as áreas”, nota. “O mercado de recém-licenciados sofreu uma queda em relação ao que as empresas estão dispostas a pagar, porque existe um excesso de oferta de mão-de-obra”, justifica.

O economista João Cerejeira lembra que a redução dos salários se faz “por força das novas contratações”. “A dinâmica do mercado de trabalho ocorre sobretudo nas franjas, nos jovens, nos mais qualificados e contratados a termo”, lembra. E dá o exemplo dos licenciados, cujo emprego teve um aumento absoluto de quase 60 mil pessoas e as remunerações tiveram a queda mais acentuada. “Como quem está no mercado de trabalho dificilmente baixa as remunerações, quem entrou tem salários mais baixos”, corrobora o economista Francisco Madelino.

População feminina
As estatísticas do emprego divulgadas na quarta-feira pelo INE mostram que a criação líquida de emprego entre o último trimestre de 2012 e o de 2103 foi particularmente visível na população feminina, com mais de 45 anos, com o ensino secundário e superior, contratada a prazo e a trabalhar no sector dos serviços. Precisamente as áreas onde a queda das remunerações foi mais acentuada (ver infografia).

Isso é visível entre a população feminina. As mulheres foram responsáveis por 87% do emprego criado no último trimestre de 2013, mas ao mesmo tempo sofreram uma quebra salarial de 2%, enquanto os homens tiveram uma quebra ligeiramente menor, de 1,9%. Os números mostram também que trabalhadores com contratos a termo, onde o emprego subiu, viram os seus salários reduzir-se em 3,6%, enquanto os do quadro tiveram um recuo de 1,5%.

Segundo Tânia Silva, a impossibilidade legal de ajustar os custos salariais dos trabalhadores do quadro leva as empresas a preferir contratos não permanentes e com menores salários. “Como não se consegue alterar o salário de trabalhador com contrato sem termo de um momento para o outro, as empresas fazem o ajustamento nas novas contratações a termo”, oferecendo salários mais baixos. No caso dos trabalhadores permanentes, a queda terá ocorrido por via da diminuição do pagamento do trabalho extraordinário e dos prémios de desempenho.

Nos serviços, o único que criou emprego no último trimestre do ano passado, o INE também dá conta de um recuo nos salários de 3,9%. Olhando com mais pormenor para este sector, o maior recuo, com base nos dados disponibilizados pelo instituto, ocorreu nas actividades de informação e comunicação e na administração pública. Na indústria e na agricultura, sectores que perderam emprego, verificou-se um incremento do rendimento salarial médio.

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