Uma chicotada dolorosa nas costas do futebol francês

Houve pressão junto da classe política, reuniões atrás de reuniões entre representantes dos clubes e da Federação Francesa de Futebol (FFF), avanços e recuos, ameaças de greve e conjecturas desastrosas acerca do futuro da modalidade. No final, de pouco ou nada adiantou o esbracejar dos dirigentes: a taxa de 75% sobre os rendimentos acima de um milhão de euros por ano parece ter vindo para ficar.

A elite do futebol francês vai ser forçada a fazer (novas) contas à vida. O revés pode não ser dramático para os milionários Paris Saint-Germain ou Mónaco (já lá vamos), mas terá seguramente consequências ao nível da gestão orçamental e desportiva da maioria dos emblemas visados. De que universo, na prática, estamos a falar? De acordo com a France TV, em causa estarão, ainda que em moldes diferentes, 14 dos 20 clubes da Ligue 1, o principal campeonato do país.

“O futebol profissional francês suporta o custo de trabalho mais elevado de entre os grandes países europeus. A UCPF [União dos Clubes Profissionais de Futebol] pede responsabilidades ao poder público quanto às consequências desta imposição, que afecta um sector de actividade deficitário, em perda de competitividade internacional e cujo equilíbrio tem sido assegurado pelos accionistas dos clubes”, expôs o organismo, em comunicado, depois de ter tomado conhecimento da aprovação da medida.

No total, estima-se que os clubes que compõem a Ligue 1 venham a desembolsar qualquer coisa como 43,2 milhões de euros, se optarem por absorver o impacto da medida em vez de o repercutirem no bolso dos próprios jogadores. Quase metade deste valor (20 milhões) será suportado pelo Paris Saint-Germain, que, ainda assim, poderia ter visto duplicar a despesa se o Governo não tivesse introduzido nas contas um limite de 5% do total das receitas captadas pelos emblemas do primeiro escalão.  

Este imposto, de resto, abrangerá 114 salários no futebol francês, com o top 5 a reunir o PSG, naturalmente (21), o Marselha (17), o Lille (14), o Bordéus (14) e o Olympique Lyon (13). Porque é que os magnatas do Mónaco ficam de fora das contas? Por uma questão legal, que continua a ser alvo de uma chuva de críticas: o clube tem sede no principado e, como tal, não pode ser taxado à luz da legislação francesa.

Significa isto que um clube que tem jogadores de primeiríssima linha do futebol mundial (e dos mais bem pagos do planeta), como Radamel Falcao, James Rodríguez, João Moutinho ou Éric Abidal, passa por entre a chuva, de braço dado com emblemas tão modestos como o Evian, o Lorient, o Nantes, o Reims e o Sochaux, todos eles porque não contam nas suas fileiras com nenhum trabalhador que atinja um milhão de euros de remunerações.

E se o presidente do Mónaco, o milionário russo Dmitry Rybolovlev, não terá de se preocupar no futuro com as consequências desta medida (que, se fosse adoptada em Portugal, afectaria talvez uma dezena de futebolistas e o treinador Jorge Jesus, que aufere cerca de quatro milhões por ano), já os restantes participantes na Ligue 1 passarão a pensar duas vezes antes de se aventurarem no mercado em busca da nata do futebol. Para além do mais, aumenta o risco de os próprios jogadores passarem a fazer as suas escolhas de carreira em favor de um país com um regime fiscal mais favorável.

“Todos reconhecem que a taxa de 75% é absurda no plano económico, ineficaz no plano fiscal e injusta no plano social. As consequências serão muito pesadas para os clubes nos anos que se seguem. O futebol francês vai ter de suportar o peso de uma política demagógica”, resumiu Frédéric Thiriez, presidente da Liga de Futebol Profissional.

 
 
 

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