Bancos garantem que Royal Mail não foi vendido barato

Governo britânico tem sido acusado de subvalorizar empresa, cujas acções já subiram 80% em bolsa

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Royal Mail estreou-se em bolsa em Outubro e acções chegaram a valorizar 80% Leon Neal/AFP

Os bancos que estiveram envolvidos na dispersão de 60% do capital do Royal Mail em bolsa, em meados de Outubro, garantiram nesta quarta-feira, numa audição no Parlamento britânico, que o preço definido foi o adequado. O Governo do Reino Unido tem estado sob fogo político, sendo acusado de ter vendido barato a empresa.

O UBS e o Goldman Sachs, que foram responsáveis pela colocação das acções no mercado de capitais, afirmaram que a empresa não poderia ter sido vendida ao preço a que as acções estão a negociar agora, noticia a Reuters. O preço definido para a oferta pública inicial foi de 330 pence, mas nesta quarta-feira as acções negociavam a 539 pence.

Trata-se de uma diferença superior a 60%, tendo os títulos chegado já a valorizar 80%. Mas, para as instituições financeiras envolvidas, as acções jamais poderiam ter sido colocadas a valores tão elevados.

Richard Cormack, responsável pelo departamento de equity capital markets do Goldman Sachs, afirmou no Parlamento que o preço foi definido com base no feedback de potenciais compradores em relação ao que estariam dispostos a pagar por um número tão elevado de acções.

“Não acho que o preço actual seja indicativo do intervalo a que se poderia vender 600 milhões de acções” da empresa, a fatia que foi dispersa em bolsa, correspondente a 60% do capital da empresa com 500 anos de história, acrescentou.

Já o UBS explicou que os assessores financeiros da venda chegaram a considerar aumentar o preço máximo em 20 pence, mas recuaram pelo facto de consideraram que havia factores que desvalorizavam o Royal Mail, como a ameaça de acções laborais por parte de trabalhadores.

Já o Citigroup, o Deutsche Bank, o JP Moragen e o Panmure Gordon, que não estiveram directamente envolvidos na operação mas chegaram a fazer análises sobre a empresa para o Governo, afirmaram no Parlamento que, nos meses que precederam a venda, fizeram estimativas que avaliavam o Royal Mail entre 3700 e 8500 milhões de libras (4419 e 10.153 milhões de euros). O preço a que as acções foram colocadas no mercado avaliava a empresa em 3300 milhões de libras, o que corresponde a 3942 milhões de euros, ao câmbio actual.

No entanto, esclareceram que não se pode comparar essas avaliações com o preço a que as acções foram vendidas, já que estes bancos explicaram que não detinham toda a informação necessária, ao contrário do UBS e do Goldman Sachs, para fazer uma avaliação do valor da empresa.

A oferta pública de venda do Royal Mail, em que a procura ultrapassou largamente as expectativas, serviu de exemplo ao Governo português na privatização dos CTT. Também a operação da belga Bpost, realizada em Junho, foi tida como referência, levando o executivo a optar pela dispersão de 70% do capital dos correios nacionais em bolsa.

A oferta arrancou na terça-feira e vai prolongar-se até 2 de Dezembro, estando a estreia em bolsa prevista para 5 de Dezembro. O Governo definiu um intervalo de preços entre 4,10 e 5,52 euros por acção, mas o valor final só será fixado a 3 de Dezembro. A decisão avalia a empresa entre 615 e 828 milhões de euros e, tendo em conta o preço médio estabelecido, poderá significar um encaixe de cerca de 500 milhões.

Das 105 milhões de acções a alienar, 20% foram destinadas a investidores particulares (15,75 milhões ao retalho e 5,25 milhões a trabalhadores). Outros 40% serão alocados a grandes investidores, após uma venda directa a instituições financeiras, e a fatia final de 10% vai ficar reservada na Parpública, holding que gere as participações do Estado em empresas, por motivos de estabilização de preço. Mas também estas acções serão alienadas a grandes investidores. 
 

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