Uma engenharia para salvar o BES

O regulador partiu o BES ao meio. Uma metade boa, e uma metade má que fica para os accionistas

O Banco Espírito Santo (BES), tal como o conhecemos, deixou de existir. Na quinta-feira passada as acções do banco afundaram 40% e no dia seguinte mais 40%. Os títulos chegaram a ser negociados a apenas 10 cêntimos, em comparação, por exemplo, com os 65 cêntimos a que foram vendidas as acções no aumento de capital de Junho. Qual a razão para que de repente as acções passassem a valer quase zero? A razão é que os investidores começaram a desconfiar de que as acções poderiam realmente vir a valer zero. E assim foi. Começaram a acreditar que o Estado poderia nacionalizar o BES e ficar com todo o património dos accionistas, grandes ou pequenos. Assim foi. O Estado não nacionalizou o BES, no sentido tradicional do termo, mas o banco deixa de ser dos accionistas e passa a ser património de um Fundo de Resolução que recebeu uma injecção de dinheiro do Estado.

O Banco de Portugal resolveu dividir o BES entre um "banco bom" e um "banco mau". O primeiro fica com os activos e créditos de boa qualidade e o segundo fica com os activos tóxicos, como os créditos de qualidade duvidosa que o banco deu às holdings da família Espírito Santo. O "banco bom" fica nas mãos do Fundo de Resolução e o "banco mau" fica nas mãos dos mais de 30 mil accionistas do actual BES, que recebem um passivo que dificilmente conseguirão converter algum dia em dinheiro.

É uma engenharia financeira que, apesar de deixar cair os accionistas, salvaguarda o dinheiro dos depositantes. E tem uma vantagem de tentar separar de alguma forma o risco soberano do risco bancário. Ao emprestar dinheiro ao Fundo de Resolução (e não ao BES directamente), o Estado minimiza as perdas que poderá incorrer no futuro e evita que o dinheiro emprestado tenha de ser contabilizado como défice.
 

  

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