Trabalhadores menos qualificados têm cada vez mais dificuldade em arranjar emprego

Estudo da Comissão Europeia alerta que quem tem menos habilitações está a enfrentar a concorrência dos mais qualificados no acesso ao mercado do trabalho, até nas funções mais básicas.

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Em Portugal, Grécia e Espanha, "trabalhadores mais jovens só podem contar com empregos menos qualificados, na restauração ou como assistente de loja" Helena Colaço Salazar

Os trabalhadores com menos qualificações estão a sentir ainda mais dificuldades na procura de emprego, já que com a escassez de ofertas enfrentam a concorrência dos que exibem habilitações superiores. Estes trabalhadores são também os que têm mais instabilidade laboral, conclui um relatório da Comissão Europeia, divulgado nesta segunda-feira.

“A fatia de contratações de pessoas com baixo nível de educação está a contrair-se em todos os grupos de funções, mesmo nas ‘ocupações básicas’, onde caiu quatro pontos percentuais entre 2008 e 2012”, especifica o documento. A crise, lê-se no relatório, reforçou a tendência de aumento das qualificações pretendidas pelos empregadores. “O volume de contratação e emprego continuou a ser maior no segmento das qualificações médias, ao passo que o recrutamento de pessoas altamente educadas não só foi mais resistente durante a recessão, como ofereceu, ao mesmo tempo, emprego mais sustentável”. Durante os anos analisados, as vagas de emprego caíram, em média, 19% e as contratações recuaram 14% nos 28 Estados-membros.

O estudo identifica três grupos distintos de países. No primeiro, que inclui Portugal, Grécia e Espanha, “os trabalhadores mais jovens só podem contar com empregos menos qualificados, na restauração ou como assistente de loja”.

As perspectivas de quem não tem muita formação reduzem-se, à medida que os mais habilitados aceitam este tipo de tarefas. O segundo grupo, onde estão a Áustria, Suécia e Alemanha, demonstra resiliência e registou uma queda marginal das contratações, com “boas correlações entre aptidões académicas e profissionais”.

Por fim, na Hungria, Polónia e Eslováquia há uma elevada “proporção de pessoas com educação média entre a população e uma indústria relativamente importante”. A oferta e a procura equilibra-se, mas pode ser afectada pela emigração, alerta Bruxelas.

O relatório conclui ainda que a escassez de contratos de trabalho permanentes obrigou quem procura emprego a aceitar funções em part-time ou contratos temporários. Entre 2008 e 2012 apenas sete países da União Europeia (27) registaram um aumento na taxa de empregabilidade e Portugal foi um deles.

Contudo, esta conquista é explicada por um outro fenómeno, que espelha as consequências da prolongada crise que afectou o país. “Portugal foi profundamente afectado pelos problemas da zona euro mas a recuperação da procura no mercado de trabalho foi, em grande parte, satisfeita por um recurso cada vez maior ao trabalho temporário”, refere a Comissão Europeia.

A proporção de contratos temporários involuntários na UE aumentou de 31% em 2008 para 35% em 2012. Portugal e Espanha foram, de longe, os países com maior incidência: 65% das contratações feitas em Portugal durante o ano de 2012 foram formalizadas através de vínculos temporários (80% em Espanha).

Numa declaração que acompanha a publicação do relatório, o comissário europeu para o Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão, László Andor, apelou ao investimento na formação das pessoas menos qualificadas. “A segmentação persistente do mercado de trabalho e a fraca recuperação económica significa que muitas pessoas são excluídas de oportunidades de emprego e arriscam cair na pobreza. As perspectivas de emprego daqueles com pouca educação são duras a não ser que adquiram as competências procuradas pelos empregadores. Precisamos urgentemente de apoiar estas transições no mercado de trabalho”, afirmou.

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