Subscrições de certificados de aforro batem máximos históricos

Em Julho e Agosto, os portugueses aplicaram 628 milhões neste produto de poupança do Estado. Descida do risco da dívida, crise no GES e pagamento de subsídios de férias ajudam a explicar aumento.

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As subscrições de certificados de aforro superaram pelo segundo mês consecutivo os 300 milhões de euros, valores máximos em 14 anos, mostram dados publicados nesta segunda-feira pelo IGCP, a agência responsável pela tesouraria e gestão da dívida pública portuguesa.

O pico das aplicações registou-se em Julho, mês em que os portugueses aplicaram 323 milhões de euros nestes instrumentos de poupança. Foi o valor mais alto desde 2000. E em Agosto, embora as subscrições tenham abrandado, voltou a registar-se um valor historicamente elevado, de 305 milhões de euros.

Os 628 milhões investidos nestes dois meses representam mais de um terço de todo o montante de certificados de aforro emitidos de Janeiro a Agosto. O reforço dos investimentos em produtos de dívida pública portuguesa tem vindo a acentuar-se no último ano, seja pelas rentabilidades oferecidas, seja pela diminuição do risco associado à dívida soberana. Mas durante vários meses o valor mensal das subscrições não chegava aos 200 milhões, o que só veio a acontecer em Abril e Maio deste ano.

A fasquia dos 100 milhões tinha sido superada em Maio de 2013. As rentabilidades oferecidas nos certificados de aforro, acima de 3% (superior à taxa oferecida pelos bancos em novos depósitos), têm alimentado o crescimento destes instrumentos. Mas o “salto” que se verificou em Julho e Agosto – também visível nos novos certificados do tesouro Poupança Mais – poderá ter sido influenciado por alguns factores pontuais, com estes instrumentos de retalho a servirem de refúgio de depositantes no contexto da crise no Grupo Espírito Santo (GES) e do BES.

Desde logo, nota o economista-chefe do Montepio, Rui Bernardes Serra, as subscrições líquidas (descontando as amortizações dos certificados) mostram que “a subida no mês de Agosto não reflecte apenas a sazonalidade associada à época do ano”. Por um lado, vinca, “a crise no GES levou a uma redução dos depósitos no BES/Novo Banco, em detrimento de aplicações noutras instituições bancárias, devendo o Estado também ter beneficiado dessa fuga”.

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Por outro lado, continua Rui Bernardes Serra, é preciso ter em conta a “redução do risco percepcionado pelos investidores internacionais na dívida portuguesa”. A diminuição dos juros, patente na redução da diferença das taxas portuguesas face aos títulos alemães, “tem vindo a fazer regressar aos instrumentos de retalho de dívida portuguesa os investidores que se afastaram destes investimento, a partir da grande recessão internacional de 2008 e, sobretudo, a partir da entrada da troika em Portugal na Primavera de 2011”. Após um período de saldo negativo, foi só a partir de Dezembro de 2012 que as subscrições voltaram a superar as amortizações. Nesse mês, as subscrições foram de 66 milhões e as amortizações ficaram-se pelos 65 milhões.

Segundo o economista-chefe do Montepio, é preciso ainda ter em conta outro factor que neste meses de Julho e Agosto influenciou o rendimento de uma parte das famílias portuguesas: o pagamento dos subsídios de férias e a reposição temporária dos salários dos funcionários públicos. Estes factores já tinham levado a uma “forte subida dos depósitos à ordem em Julho”. E “esta tese parece ser corroborada com o facto de a terceira maior subida de sempre no stock de certificados de aforro/certificados do tesouro ter ocorrido em Novembro de 2013”, porque também nessa altura se assistiu a uma subida dos depósitos quando foi pago o subsídio de férias aos funcionários públicos.

Em conjunto, as subscrições de certificados de aforro e de tesouro ascenderam em Agosto a 611 milhões de euros, um valor líquido de 555 milhões se for descontado o montante dos títulos amortizados. Ao todo, nestes dois produtos de retalho vendidos aos balcões dos CTT já foram investidores este ano mais de 3400 milhões (oito primeiros meses do ano).

Para ler estes números como um todo é preciso esperar por outros indicadores de conjuntura, como as estimativas de poupança dos agregados familiares. Os dados mais recentes sobre a taxa de poupança, medido pelo INE, dizem respeito ao primeiro trimestre (11,9%). O último inquérito de conjuntura aos consumidores revela uma deterioração do índice que mede o grau de poupança, ao contrário da tendência dos três meses anteriores.

A dívida directa do Estado já superava, em Agosto, os 216 mil milhões de euros, mais 925 milhões do que no mês anterior. Neste volume estão, por exemplo, os títulos de dívida de curto prazo e longo prazos, os montantes dos empréstimos da troika, passando pelos produtos de aforro vendidos aos balcões dos CTT.

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