Sindicatos questionam eventual saída de mil trabalhadores do BPI

Possibilidade foi admitida pela administração do banco, caso avance a OPA do CaixaBank.

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Fernando Ulrich, presidente do BPI Ricardo Brito

Os sindicatos dos bancários vão pedir esclarecimentos à direcção do BPI sobre como acontecerá a saída de cerca de mil trabalhadores do banco, uma possibilidade admitida pela administração caso avance a OPA do CaixaBank.

"O sindicato irá pedir esclarecimentos ao BPI e pedir aos sindicatos espanhóis para entrarem em contacto com o CaixaBank para saberem se as condições de saída serão distintas de acordo com os lados das fronteiras", disse à Lusa o presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, Rui Riso.

Também o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários vai pedir informações sobre o tema à equipa liderada por Fernando Ulrich, presidente do BPI. "Queremos saber se será um processo feito com respeito pelos trabalhadores ou se será um processo agressivo como no Novo Banco", afirmou o presidente desta estrutura sindical, Paulo Marcos.

O presidente deste sindicato fala do histórico do CaixaBank em reestruturações de bancos que adquiriram, como é o caso da operação do Barclays em Espanha, para dizer que está "apreensivo" caso seja seguido em Portugal o mesmo tipo de práticas.

"Queremos saber se será uma aceleração do processo de reformas antecipadas e saídas negociadas que o BPI já vem fazendo [com a saída de cerca de 200 trabalhadores por ano] ou se será um processo mais musculado", afirmou.

Já Rui Riso, do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, considera, por seu lado, que saídas de trabalhadores de bancos em Espanha acontecem com "regalias" muito acima das que os bancos portugueses dão em Portugal, uma vez que aqueles têm "mais preocupações sociais" e diz que seria um quadro semelhante que gostaria de ver replicado em Portugal, caso o banco avance mesmo com saída de pessoal.

"A Espanha perdeu 80 mil postos de trabalho desde que começou o processo de reestruturação do sector bancário, mas sem conflito social", afirmou.

A Oferta Pública de Aquisição (OPA) da totalidade do capital do BPI pelo CaixaBank (que já tem uma participação superior a 44%, mas com limitação a 20% dos direitos de voto) tem implícita a saída de cerca de mil trabalhadores, estimou o conselho de administração do banco português no relatório divulgado terça-feira em que reagiu à proposta do banco espanhol.

"Tomando por base os custos de reestruturação anunciados pelo oferente e as sinergias previstas na rubrica de custos com pessoal, este cenário seria compatível com a saída de cerca de mil colaboradores", refere o texto enviado terça-feira à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

Aqueles custos e estas sinergias tinham sido quantificados na proposta apresentada em 18 de Abril, respectivamente em 250 milhões e 45 milhões de euros.

A redução de pessoal, ainda segundo o mesmo documento, citando a proposta do CaixaBank, seria conseguida "dando prioridade a reformas antecipadas e lay-off incentivados".

A administração do Banco BPI adiantou ainda que tem já em curso "iniciativas que levarão à redução de 250 efectivos até ao final do corrente ano".

A OPA do Caixabank sobre o BPI foi anunciada em Abril, depois de o banco espanhol não ter conseguido chegar a entendimento com a angolana Santoro (empresa de Isabel dos Sanos e segundo maior accionista do banco, com 18,58%) sobre uma solução para o banco e sobretudo para a redução da exposição a Angola, onde o BPI tem o Banco Fomento de Angola (BFA).

O problema é que Frankfurt considera Angola como um dos países que não tem uma regulação e supervisão semelhantes às existentes na União Europeia, pelo que o BPI tem de reduzir a sua exposição ao mercado angolano (dívida pública e a exposição ao BFA, onde detém 50,1%) ou contabilizá-la a 100%, o que Frankfurt estima em 5.000 milhões de euros.

A operação em Angola é a 'jóia da coroa' do BPI, sendo que no primeiro trimestre contribuiu com 37 milhões de euros para os resultados consolidados, ou seja, 77% do total dos lucros do banco.

Na quarta-feira, a central sindical UGT, em que está filiado o Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, disse que recebeu com "estupefacção" a possibilidade de a OPA do CaixaBank sobre o BPI levar à saída de 1.000 trabalhadores e falou mesmo em "má-fé negocial", uma vez que teve recentemente reuniões com a direcção do banco em que nada foi adiantado sobre este tema.

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