Reserva Federal dos EUA reduz estímulos à economia em dez mil milhões de dólares

Compra de activos passa para 75 mil milhões de dólares por mês. Fed faz avaliação positiva da actividade económica, mas mantém prudência e admite juros baixos por mais tempo.

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Ben Bernanke termina o mandato a 31 de Janeiro, sucedendo-lhe o seu braço direito na Fed, Janet Yellen Alex Wong/Getty Images/AFP

O programa de estímulos à economia norte-americana vai continuar de pé, mas agora a um ritmo de 75 mil milhões de dólares por mês de compra de activos (cerca de 54.500 milhões de euros), enquanto as taxas de juro de referência poderão manter-se baixas durante mais tempo do que o previsto. Foi a última decisão emblemática do comité de política monetária da Reserva Federal norte-americana antes de Ben Bernanke deixar a liderança da instituição, no final de Janeiro.

A decisão de reduzir a dimensão do programa de estímulos económicos, que consiste actualmente na compra de activos a um ritmo de 85 mil milhões de dólares por mês, foi confirmada ao fim de dois dias de reunião do comité de política monetária da Fed, em Washington.

A partir de Janeiro, em vez de comprar 40 mil milhões de dólares em títulos hipotecários por mês, passa a adquirir 35 mil milhões, enquanto a compra de Obrigações do Tesouro baixa de 45 mil milhões para 40 mil milhões.

Será uma retirada gradual: olhando para as condições do mercado de trabalho e a evolução da inflação, a Fed admite avançar com “novas reduções do programa de compra de activos”. A redução dos estímulos, um cenário admitido por Bernanke há já vários meses, acontece numa altura em que os indicadores económicos mostram uma melhoria na actividade económica e uma tendência de descida do desemprego.

No seu duplo mandato, Bernanke dá continuidade à estratégia de manter as taxas de juro de referência próximas de zero até que a taxa de desemprego fique abaixo de 6,5%. Mas, naquela que foi uma das grandes surpresas da reunião de terça e quarta-feira, admite vir a fazê-lo por mais tempo, mesmo prevendo que o desemprego se situe entre 6,3% e 6,6% já em 2014. Tendo em conta a ponderação desses factores, a Fed tomará “as decisões apropriadas”, disse Bernanke em conferência de imprensa, em Washington.

Se a inflação e as expectativas de inflação se mantiverem baixas quando o desemprego já for inferior àquele patamar, a Reserva Federal vai olhar para outros indicadores no mercado de trabalho antes de subir as taxas de juro. A Fed não prevê, ao mesmo tempo, que a inflação fique próxima do objectivo de 2% antes de 2015 (projecta um intervalo de 1,4% a 1,6% para 2014 e de 1,5% a 2% no ano seguinte).

A análise de conjuntura da autoridade monetária aponta para uma recuperação da actividade económica a um “ritmo moderado”, com um crescimento no consumo e no investimento empresarial, mas um abrandamento da retoma no sector imobiliário. As condições no mercado de trabalho voltaram a melhorar, mas o desemprego “mantém-se num nível elevado”, nos 7% em Novembro.

O facto de, ainda antes do Verão, a Fed ter aberto a porta a uma retirada progressiva dos estímulos evitou que o anúncio provocasse surpresas no mercado, o que não quer dizer que não haja impactos desta decisão no curto prazo. A indicação de que a autoridade monetária poderia vir a reduzir a compra de activos assim que a economia desse sinais mais robustos de recuperação. Setembro foi admitido nos mercados como o mês de início da redução dos estímulos, mas a fragilidade da recuperação do mercado de trabalho levou Bernanke a adiar essa opção.

Rumo mantém-se
Com os investidores atentos, as bolsas nos Estados Unidos abriram a sessão em alta moderada e aceleraram os ganhos depois de conhecida a decisão. Do outro lado do Atlântico, e antes de se saber do desfecho da reunião de dois dias, as principais praças encerraram com ganhos.

A sucessora de Bernanke, a actual vice-presidente, Janet Yellen, tem estado a seu lado na defesa da actual política de estímulos, considerando-a melhor opção para a recuperação dos EUA. E a seu lado esteve quando a Fed deu indicação de que chegara a altura de começar a pensar numa retirada progressiva dos estímulos. Em linha com as posições do comité de política monetária nos últimos meses, Yellen dizia ainda recentemente que a situação económica aconselha prudência. E nada indica que venha a inverter a estratégia quando, a 1 de Fevereiro, assumir o lugar de Bernanke.

O facto de os EUA manterem os estímulos é considerado pelo próprio presidente da Fed como um sinal de que a economia permanece frágil; e a sua retirada progressiva, um argumento de que a retoma está a fazer o seu caminho. Nas previsões que divulgou nesta quarta-feira, a Fed prevê que o produto interno bruto (PIB) cresça entre 2,8% e 3,2% no próximo ano, para depois avançar entre 3% a 3,4% em 2015.
 

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