Presidente do IGCP: reembolso ao FMI não é comparável com o da Irlanda

Portugal já garantiu 40% do financiamento de 2015. Se o reembolso antecipado se concretizar este ano, vai implicar financiamento adicional.

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Cristina Casalinho (ao centro) lembra que Portugal só está classificado como grau de investimento pela agência DBRS Daniel Rocha

As condições que Portugal enfrenta para reembolsar antecipadamente o empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI) não são totalmente comparáveis com as da Irlanda e, por isso, a estratégia portuguesa no pagamento ao fundo deve ser menos ambiciosa, defende a presidente do IGCP, Cristina Casalinho.

Em entrevista ao Diário Económico, a responsável pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) afirma que “é difícil” apontar para já qual o valor que Portugal vai reembolsar ao FMI de forma antecipada, porque “a posição portuguesa e irlandesa não é necessariamente igual”. Desde logo, justifica, Portugal está classificado como grau de investimento apenas por uma agência de rating, a canadiana DBRS, enquanto à Irlanda as três maiores agências de rating atribuem a recomendação de investimento.

Para além desta “diferença significativa” se reflectir nos custos de financiamento, vinca Cristina Casalinho, é preciso ter em conta que a Irlanda tinha uma almofada de liquidez maior quando decidiu pedir ao FMI para reembolsar o empréstimo antecipadamente, de forma a beneficiar da redução dos custos de financiamento.

À pergunta sobre que montante de dívida ao FMI seria preciso amortizar para fazer o mesmo que a Irlanda, a presidente do IGCP responde que o valor seria de 22 mil milhões de euros. “Mas pagar dez mil milhões em cada ano, com este perfil de reembolsos, parece pouco credível. Temos de ser menos ambiciosos que os irlandeses, as condições de que eles desfrutam não são comparáveis com as nossas. Por exemplo, a Irlanda tinha uma almofada de liquidez maior, de 19 mil milhões de euros. A nossa foi de cerca de 12,5 mil milhões. Tem de se jogar com todos estes aspectos”, frisa.

Cristina Casalinho não diz em que momento Portugal pode formalizar o pedido ao FMI, já anunciado pela ministra das Finanças, mas conta que este ano já haja reembolso antecipado. Tendo em conta o que aconteceu com a Irlanda, diz, levou três a quatro meses entre o pedido formal e a primeira antecipação. “E eles tiveram ali uma demora com a Suécia, cuja aprovação teve de ir ao Parlamento. No nosso caso isso não acontece, porque não temos um empréstimo bilateral da Suécia”.

Portugal já garantiu 40% das necessidades de financiamento deste ano, faltando assegurar 8100 milhões de euros. “A concretizar-se o reembolso antecipado ao FMI, isso vai implicar necessidades de financiamento adicionais”, adianta, sem concretizar valores.

A ideia de adiantar o pagamento passa por substituir os empréstimos por dívida de prazo mais longo, baixando a pressão sobre o valor que é preciso financiar nos próximos anos. “O que queremos é retirar estes montantes. Outra coisa que interessa: o empréstimo do FMI, a partir do momento em que está em vigor há mais de três anos e que é maior do que três vezes a quota de um país, tem um aumento do spread. Em condições normais são 100 pontos base e nestas condições são 400 pontos”, explica Cristina Casalinho.

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