Política de austeridade está a ir “longe demais”, diz Martin Schulz

Ineficaz, pouco transparente e com “uma troika que impõe medidas” – é “num estado lamentável” que, para o presidente do Parlamento Europeu, a UE se encontra.

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Martin Schulz com Durão Barroso, em 2009 Yves Herman/Reuters

Depois de Durão Barroso reconhecer que a actual política de austeridade na Europa “atingiu os limites”, foi a vez de o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, criticar a resposta dos governos à crise por irem “longe demais” na estratégia da austeridade.

As fissuras abertas pela crise das dívidas são profundas e é preciso lutar por uma União Europeia (UE) mais transparente, socialmente mais justa e próxima dos cidadãos. É este o retrato – e a projecção – que o social-democrata alemão faz da Europa a um ano das eleições para o Parlamento Europeu.

Numa entrevista ao jornal belga L’Echo, Martin Schulz não esconde o desencantamento em relação a uma Europa que diz ser incompreendida pelos cidadãos. E que está hoje, segundo diz, “num estado lamentável”.

Com o debate europeu entre austeridade e crescimento económico a intensificar-se na Europa, Schulz diz que é preciso desconstruir argumentos. “Estamos a ir longe demais na política de austeridade”. E “o argumento que consiste em dizer que, com a redução dos orçamentos públicos, a confiança dos investidores regressa é manifestamente falso”.

Para o ex-presidente do Partido Socialista Europeu, nenhuma economia se equilibra “sem relançamento económico com investimentos estratégicos”.

As pessoas, diz, estão desiludidas e cabe à UE procurar os cidadãos onde eles se encontram. “E eles encontram-se actualmente numa situação de cepticismo compreensível: há uma ineficácia da União Europeia, a falta de transparência das decisões, uma troika que impõe medidas aos países...”. Um tema que retomou neste sábado, no XIX Congresso do PS, em Santa Maria da Feira, onde defendeu ser preciso recuperar os valores fundadores da UE: a paz, a justiça e a solidariedade. E lutar por oferecer oportunidades aos mais jovens e uma melhor distribuição da riqueza.

Questões que lança à mesa na entrevista ao jornal L’Echo: “O Banco Central Europeu, qual é a sua responsabilidade democrática? O FMI, qual é a sua responsabilidade democrática? É preciso admitir que as pessoas não compreendem o funcionamento da UE”.

A posição de Martin Schulz é reforçada dias depois de o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, abordar precisamente o papel dos governos e das instituições europeias na gestão da crise, quando admitiu que aos cidadãos não foi explicado suficientemente o que está em causa com a política de austeridade. “Política e socialmente, uma política vista unicamente como austeridade, é claro que não é sustentável”, afirmou na passada segunda-feira em Bruxelas.

Agora, Schulz vem apelar à necessidade de os governos se concertarem relativamente a um pacote para o crescimento, uma vontade que reconhece ao Presidente francês, François Hollande, mas que diz não ter dado frutos. “Onde estão as medidas?”, questiona.

O Presidente do Parlamento Europeu rejeita, no entanto, colocar a toda a responsabilidade das políticas de rigor orçamental nas mãos da chanceler alemã, Angela Merkel, que tem sido o alvo das acusações de intransigência por parte de vários socialistas franceses. “Não se pode acusar Angela Merkel de decidir sozinha, já que há 26 outros dirigentes em volta da mesa” no Conselho Europeu, contrapôs.

Questionado sobre se será o candidato dos socialistas à presidência da Comissão Europeia, Schulz disse ser “demasiado cedo para responder à pergunta”. Mas não fecha a porta a esse cenário: “Tomo nota que o meu nome é por vezes mencionado, tal como o de Barroso [que termina mandato em Outubro de 2014]”.

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