Para o comércio vem aí o Natal “das grandes incertezas”

Consumidores travam gastos e do grande ao pequeno comércio não há grandes esperanças de uma recuperação nas vendas.

Fotogaleria
Vendas no Natal não devem compensar quebras do ano Enric Vives Rubio
Fotogaleria
Famílias preferem comprar presente úteis Nuno Ferreira Santos

As montras já estão decoradas, a música natalícia já soa nas lojas mas entre os comerciantes as expectativas não são animadoras. Desde que estalou a crise económica e financeira, o negócio tem vindo a perder volume e o Natal deixou de ser a época de ouro para o comércio, capaz de amparar a queda de vendas acumulada ao longo do ano. Ana Isabel Trigo de Morais, directora-geral da Associação Portuguesa das Empresas da Distribuição (APED) diz mesmo que este será o Natal “das grandes incertezas”.

“As vendas que estão a ser projectadas reflectem a quebra de consumo. Este era um período de pico”, afirma. Os produtos mais associados à quadra devem conseguir manter níveis de vendas, mas no geral não se esperam milagres nas contas. Os portugueses ainda vão “fazer um esforço para manter a tradição” mas estão “cada vez mais receosos nas suas decisões de compra”, continua Ana Isabel Morais. A directora-geral da APED não tem dúvidas de que este será o Natal “mais difícil dos últimos anos” para a grande distribuição, cujas vendas caíram 0,4% no segundo trimestre, para 4,6 mil milhões de euros.

Carla Salsinha, presidente da União de Associações do Comércio e Serviços (UACS), lembra que esta altura do ano sempre se conseguiu compensar os períodos mais difíceis. “As famílias tinham mais capacidade financeira e esta era uma época de maior apelo ao consumo”, recorda. Com a classe média a ser “fortemente atacada” pelas medidas de austeridade e as incertezas quanto a 2013 e aos impactos do aumento de impostos, a tendência é para apertar ainda mais o cinto e travar gastos considerados supérfluos.

Os comerciantes não investem tanto em stock e apostam nas campanhas promocionais para atrair consumidores. “É um pouco o Natal em saldos. O comércio de proximidade é o que mais directamente lida com as famílias e vemos que têm menor capacidade para consumir”, diz Carla Salsinha. Os presentes deram lugar às “lembranças”. E no cabaz de compras quase só entram produtos com utilidade, como roupa.

Um estudo recente da Deloitte mostra que o valor médio dos gastos previstos pelas famílias portuguesas para o Natal com presentes, comida e eventos sociais é, este ano, de 464 euros, menos 13,5% do que em 2011. Desde que Portugal foi incluído neste inquérito, em 2005, é não só a maior quebra percentual mas também o montante mais baixo.

Sugerir correcção
Comentar