Grandes superfícies já dispensaram milhares de trabalhadores com a crise

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Pela primeira em vários anos, assistiu-se ao encerramento do primeiro hipermercado em Portugal: o Jumbo de Santarém PAULO PIMENTA

Sindicato do comércio diz que a situação no sector é grave. Associação Portuguesa das Empresas de Distribuição admite que não há memória de uma diminuição tão grande de postos de trabalho

Sem alarido e de forma discreta, as grandes superfícies comerciais já terão dispensado "milhares de trabalhadores" desde o início do ano. O Sindicato dos Trabalhadores do Comércio e Serviços de Portugal (CESP) diz mesmo que a "situação é grave", "cada vez mais difícil" e está a acontecer de forma transversal em todos as áreas: do alimentar, como super e hipermercados, ao não-alimentar, que inclui desde cadeias de roupa a lojas de mobiliário.

"São muitos milhares de pessoas. O número de trabalhadores por loja desceu muito significativamente, na ordem dos 15% a 30%", diz Manuel Guerreiro, presidente do CESP. O sindicato não aponta números concretos, porque nos balanços sociais das empresas "o impacto da redução do número de colaboradores não é imediato". Além disso, "os dados globais incluem reforços de pessoal que habitualmente são feitos nas férias ou em períodos de maior actividade, como no Natal", explica Manuel Guerreiro.

A saída de trabalhadores tem sido feita quer pela não renovação de contratos de trabalho, quer por rescisões amigáveis. Quando o vínculo com a empresa cessa, há "reafectação de pessoas dos quadros entre lojas", diz o responsável do CESP, acrescentando que há uma orientação das empresas para não contratar.

Depois de anos de expansão e abertura de lojas, a distribuição moderna está a sofrer os impactos da crise económica e, pela primeira vez em vários anos, perdeu postos de trabalho e assistiu ao encerramento do primeiro hipermercado em Portugal (o Jumbo de Santarém).

Os últimos dados divulgados pela Associação Portuguesa das Empresas da Distribuição (APED) confirmam, aliás, a versão do sindicato. Em 2011 perderam-se 6593 postos de trabalho, 64% dos quais na área alimentar. Pelo contrário, em 2010 foram criados 5195 empregos. Entre Janeiro do ano passado e Março de 2012 encerraram 37 lojas, uma realidade "em total contraciclo com a expansão do sector nos últimos anos", sublinha a APED.

Ao PÚBLICO, Ana Isabel Trigo de Morais, directora-geral da associação, diz que a crise "tem um enorme efeito sobre o sector do comércio, seja ele de pequena, média ou grande dimensão". Os dados do ano passado relativos às grandes superfícies são "muito preocupantes" e "não há memória de um registo de diminuição dos postos de trabalho desta dimensão", alerta Ana Isabel Morais.

Em 2012, o cenário não se alterou. A associação, que conta com 121 membros, ainda não tem números actualizados, mas garante que "houve perda de emprego no sector". Contudo, diz que dificilmente se regista uma diminuição de trabalhadores na ordem dos 30% por cada loja, como adianta o sindicato.

As boas notícias também não devem chegar em 2013. "Com o impacto que vai existir nos rendimentos das famílias, de uma forma que não estamos sequer a imaginar, haverá menos dinheiro nos bolsos. E o sector da moderna distribuição com certeza será dos primeiros a sentir esse efeito", diz Ana Isabel Morais. A directora-geral da APED garante que a preocupação dos operadores é "manter o emprego".

Contactada pelo PÚBLICO, fonte oficial da Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, refere que a empresa está "permanentemente a reajustar a sua operação de forma a responder da melhor forma às necessidades dos seus clientes e a garantir a qualidade do atendimento". No final do primeiro semestre, "o Pingo Doce contava com mais algumas centenas de colaboradores do que em igual período do ano anterior, tendo contribuído para este número a abertura de novas lojas", afirma, sem especificar números. Não foi possível obter comentários da Sonae, dona do Continente e do PÚBLICO.

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