OPA da José de Mello inicia luta de preços pelo controlo da ES Saúde

Empresa subiu oferta em 10 cêntimos por acção face aos mexicanos da Ángeles, mas o processo ainda não chegou ao fim.

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Salvador de Mello e Vasco de Mello, na conferência de imprensa desta quinta-feira Rui Gaudêncio

"Uma operação desta natureza não é uma corrida para ver quem chega primeiro.” A frase é de Vasco de Mello, presidente do Grupo José de Mello, e representa o espírito da disputa pelo controlo da ES Saúde

Os mexicanos da Ángeles tomaram a dianteira no dia 19 de Agosto, ao oferecer 4,3 euros por acção, avaliando a ES Saúde em 410 milhões. Nesta quinta-feira, foi a vez da José Mello Saúde (controlada a 70% pelo Grupo José de Mello e a 30% pela Associação Nacional de Farmácias) avançar, subindo a parada em 10 cêntimos por título. A quantia por acção é 2,3% superior à dos mexicanos, ligeiramente acima do estipulado pelas regras do mercado de capitais (2%).
 
O processo, no entanto, não deverá ficar por aqui. Além da probabilidade de poder aparecer outro concorrente, é expectável que a Ángeles suba a parada, elevando o valor da oferta. Neste caso, o valor terá de ser, no mínimo, 4,488 euros por acção, podendo ser arredondado para 4,49 ou mesmo para 4,5 euros.
Nesta corrida, o importante é ver quem chega ao fim, e fica com o grupo ligado ao GES que detém activos como o Hospital da Luz e o Hospital Beatriz Ângelo, este em regime de Parceria Público-Privada (PPP).

A reflectir esta guerra de preços, as acções da ES Saúde fecharam hoje a valorizar 3,7%, para os 4,55 euros. No seu parecer à proposta dos mexicanos, na terça-feira, a equipa de gestão da ES Saúde fez uma análise positiva. No entanto, o preço por acção poderia “não reflectir a totalidade de um potencial prémio de controlo”.

Caso haja um novo passo dos mexicanos, a José de Mello Saúde (JMS) não descartou hoje a hipótese de também rever em alta o valor. “Actuaremos da melhor forma” quando a questão surgir, afirmou Vasco de Mello. Tal como os mexicanos, a José de Mello Saúde faz depender o sucesso da OPA da aquisição de uma posição de controlo (50,01%), podendo não precisar da totalidade dos 420 milhões. Quanto menos precisar, menos se endividará, já que, conforme destacou Vasco de Mello, 1/3 do dinheiro a utilizar são capitais próprios e 2/3 são financiamento bancário, num consórcio liderado pelo espanhol Santander Totta.

A importância do financiamento foi atestada pelo próprio Vasco de Mello quando, no seu discurso inicial, resolveu antecipar-se a eventuais questões, afirmando que a actual estratégia só era possível após “o processo de redução de dívida” que tem sido conduzido ao nível do grupo e das principais empresas participadas (entre outros negócios, a José Mello está presente na Brisa e na Efacec). No caso da JMS, a dívida líquida é agora de 70 milhões (126 milhões em 2012), tendo lucrado 14,3 milhões no primeiro semestre.

Tudo isto, para Vasco de Mello, “evidencia um nível de solvabilidade muito confortável”. Questionado sobre a hipótese de vender activos, como os 2% que ainda detém na EDP (avaliados em cerca de 250 milhões), Vasco de Mello afirmou apenas que “o grupo tem demonstrado que gere a carteira de negócios de forma activa”.

O principal veredicto para ditar o vencedor será ditado pela Rioforte, dona de 55% da Espírito Santo Health Care Investments, que por sua vez detém 51% da ES Saúde (os outros 49% estão dispersos em bolsa). A Rioforte está em processo de gestão controlada no Luxemburgo, pelo que quanto maior o encaixe melhor conseguirá reembolsar os seus credores.

"Sem despedimentos"
Na sua análise à investida da Ángeles, a gestão da ES Saúde afirmou que uma eventual conclusão com sucesso da oferta da Ángeles “não implicará um movimento de concentração de empresas, não alterando o actual cenário de liberdade de escolha dos trabalhadores e clientes/pacientes e assegurando a manutenção do equilíbrio actual do mercado ao nível das seguradoras /sistemas de saúde/pagadores e dos fornecedores e Estado”.

Na conferência de imprensa desta quinta-feira, o presidente da José de Mello Saúde (JMS), Salvador de Mello, garantiu que se ficar com a ES Saúde não irá haver despedimentos. “Não vamos despedir. Contamos com todos e com a equipa de gestão, liderada por Isabel Vaz”, assegurou. Tendo em conta que os dois são grupos nacionais, há no seio da ES Saúde o receio de que uma OPA bem-sucedida possa conduzir a alguns despedimentos, numa lógica de duplicação de funções e de redução de custos.

Em termos de concorrência, Salvador de Mello mostrou-se convicto que “a oferta não cria problemas”,  cabendo, no entanto, a última palavra à Autoridade da Concorrência. O grupo, que tem dois hospitais em regime de Parceria Público-Privada (PPP), não espera também quaisquer problemas por parte do Ministério da Saúde devido ao facto de a ES Saúde gerir o Hospital de Loures. “Queremos desenvolver ainda mais a ES Saúde”, destacou.  A JMS é hoje composta por 11 unidades de saúde.

Em termos de dimensão, a junção dos dois grupos permitiria controlar 7,6% das camas do mercado de saúde a nível nacional (sector público e privado). Somadas as receitas de 2013 das duas empresas, o novo grupo teria uma facturação da ordem dos 860 milhões euros, cabendo a maior fatia à JMS (482 milhões).

Para Vasco de Mello, a escala da nova empresa daria ainda mais músculo a quem já é o maior operador privado, tornando-se num novo operador de dimensão europeia. Isto, por sua vez, seria uma importante base para “os desafios da internacionalização e para a atracção de clientes internacionais”.

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