O ano das exportações, dos swaps e de Vítor Gaspar

Balanço de 2013 sobre economia.

A boa notícia A dinâmica das exportações


Paulo Portas não se cansa de repetir até à exaustão: “2013 é o melhor ano de sempre das exportações portuguesas”, que têm puxado pela economia. Em Fevereiro saber-se-á se a profecia do vice-primeiro-ministro se cumpre, assim que for conhecido quanto é que Portugal vendeu ao estrangeiro este ano. Mas há uma razão para o optimismo do Governo: até Outubro, a saída de mercadorias cresceu 4% (soma mais de 39.600 milhões de euros) e as exportações de serviços seguem a bom ritmo (cresceram 6,6%, para 17.350 milhões e dão um forte contributo para o saldo positivo da balança comercial). A trajectória dos dois anos anteriores já foi ascendente; as vendas para fora da UE ganham cada vez mais peso; Portugal alarga a quota de mercado fora de portas; e a inauguração de uma nova refinaria da Galp deu um empurrão significativo nas vendas de bens. P.C.

A má notícia Os custos e contas dos contratos swaps

O caso já latejava dentro do Governo desde 2011, mas só em Abril deste ano estalou a polémica, quando Paulo Braga Lino e Juvenal da Silva Peneda foram afastados do Governo por terem negociado ou autorizado derivados de cobertura de risco de taxa de juro considerados problemáticos. Mais de 50 contratos subscritos por empresas públicas vieram a revelar-se especulativos, uma verdadeira bomba-relógio de 3000 milhões de euros que também fez cair três gestores públicos e o secretário de Estado do Tesouro, Joaquim Pais Jorge. Mas o nome mais envolvido na polémica foi o da ministra das Finanças, acusada pela oposição de ter reagido tarde de mais e de faltar à verdade. O caso acabou no Parlamento, numa comissão de inquérito cujo relatório ilibou a ministra, atirando as culpas para o PS. E falta ainda resolver o litígio com o Santander. R.A.C.

A figura Vítor Gaspar, ex-ministro das Finanças

Há muitas maneiras de sair de um governo. Há quem saia pé ante pé, sem deixar sequer que alguma poeira se agite; há quem bata a porta com estrondo. Vítor Gaspar optou por este último caminho. Num ano em que não faltaram acontecimentos e protagonistas, o ex-ministro das Finanças, visto como o rosto da austeridade, é a figura principal. Saiu de forma ruidosa do executivo, onde sempre foi dado como uma peça fulcral, e acabou por abrir portas para que as feridas na coligação governamental voltassem a sangrar, fazendo disparar os juros da dívida e atrasando um novo teste no regresso aos mercados. Tudo isto obrigou o Presidente da República a intervir de forma explícita — quando gosta mais de “agir” longe dos holofotes —, embora sem grandes resultados práticos, a não ser a reafirmação de juras de fidelidade entre PSD e CDS que tinham sido quebradas poucas semanas antes.
Gaspar, todavia, não se limitou a deixar o Governo… e pronto. Reconheceu erros próprios e como esses erros minaram a sua credibilidade, o que não deve ser fácil para um técnico cujas credenciais quase derivavam do Olimpo. Acentuou que o custo desses erros se paga no tribunal da política, através de uma inibição de desempenho público. Mas foi mais longe. Assumiu que o caminho que estava a ser seguido não funcionava e apontou a nova via: a do investimento, para combater o agravamento do desemprego, nomeadamente entre os jovens. Embora promovendo aquela que era vista como a sucessora natural de Gaspar, que Paulo Portas não queria mas teve de aceitar, Passos aproveitou para fazer uma “limpeza” na Economia. José Manuel Rocha


A seguir em 2014

Resgate Quando, em Maio, Portugal terminar o actual programa da troika, as dúvidas já estarão desfeitas sobre os cenários para o pós-programa: segundo resgate, programa cautelar ou “saída limpa”? Antes, a República terá de fazer um novo teste aos mercados, seja para se financiar, seja para receber o apoio do BCE. E acompanhar a evolução da dívida pública.

Cortes A descida na despesa do Estado é para continuar, e, no imediato, falta perceber como se resolve o chumbo do TC ao corte nas pensões. Se houver subida do IVA, pode abalar a recuperação.

Economia É à boleia das exportações, do regresso do consumo privado e do investimento que o PIB deverá crescer 0,8%. A reforma do IRC estará em vigor, e com ela espera-se um apoio à criação de emprego. Mas prevê-se que o desemprego suba para 17,7%.

Europa Ver-se-á como corre a “saída limpa” da Irlanda e se mais nenhum país assombra o euro. A Grécia promete uma recuperação, e a zona euro deverá crescer, mas pouco, atenta à retirada de estímulos da Fed. O desenho final da união bancária ditará o nível de fragmentação entre países, e o BCE tem ainda formas de influenciar o mercado.

Bancos Mesmo com o novo banco de fomento, os empréstimos manter-se-ão apertados. Os bancos continuarão a limpar os balanços.

Privatizações A TAP permanece à venda, tal como 30% dos CTT. A operação dos transportes públicos vai ser aberta a privados. L.V., P.C., R.A.C
 
 

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