Ministro da Energia apela a que Europa "não vire costas ao Atlântico"

Acordo de Madrid pode fazer da Península Ibérica uma solução para reduzir dependência à Rússia, disse Moreira da Silva em Bruxelas.

Foto
Moreira da Silva chegou à entrevista final, mas não foi o escolhido Tiago Machado

A solução para a Europa reduzir a sua dependência ao gás russo passa por Portugal e Espanha, defendeu nesta quinta-feira o ministro Jorge Moreira da Silva, que participou numa reunião em Bruxelas entre ministros da energia da União Europeia (UE). O ministro falou aos jornalistas no final do encontro e, tal como Pedro Passos Coelho na quarta-feira, sublinhou a importância que o fim do isolamento energético da Península Ibérica tem para a competitividade e segurança do abastecimento da Europa em energia.

O governante referiu-se, nomeadamente, à retoma do projecto Midcat, assim como à terceira conexão entre Portugal e Espanha (construção de gasoduto entre Celorico da Beira e a província de Zamora), que foram apontados como factores essenciais para a UE poder diversificar os seus abastecimentos de gás.

"Portugal e Espanha, não dependendo em absolutamente  nada do gás da Rússia, podem contribuir para que a UE seja menos dependente do gás russo", declarou Moreira da Silva.

Os países ibéricos importam a maior parte do seu gás natural da Nigéria e da Argélia e possuem oito dos 12 terminais de recepção e regaseificação de gás natural liquefeito (GNL) da Europa: sete em Espanha e um em Portugal (Sines). Uma ligação directa através de França ao resto da Europa criaria assim uma fonte alternativa de gás natural a partir do Atlântico, como explicou o ministro da Energia aos seus homólogos europeus.

"Hoje fiz questão de dizer, como tenho dito nos últimos meses, que não podemos projectar uma maior diversificação das fontes energéticas e do abastecimento de energia à UE de costas voltadas para o Atlântico", referiu. Algo há muito defendido por Portugal e que parece ter sido entendido em Bruxelas, tendo o ministro também saudado o anúncio da Comissão Europeia de que vai avançar com uma estratégia europeia global para o GNL.

No sector da electricidade, Moreira da Silva confirmou que a meta de 10% de interligações entre Portugal e Espanha será atingida em 2016, bastando para isso a finalização de um projecto que já está na lista das prioridades europeias: a ligação de Vila do Conde/Recarei com Beariz/Fontefría (Espanha).

Mais difícil será atingir a meta de 10% de interligação entre Espanha e França ainda em 2020, que actualmente ronda os 3%. A própria Comissão Europeia prevê que Espanha e Chipre serão os únicos países a falhar a meta europeia em 2020.

A finalização do projecto para uma ligação submarina entre o Golfo de Biscaia e a Aquitânia, que já está na lista de projectos de interesse comum europeu, ao qual se acrescentam mais dois projectos nos Pirenéus identificados na declaração de Madrid de quarta-feira, permitirão chegar a 8% de interligação, mas será necessário identificar novos projectos para atingir a meta europeia.

Daí a importância, segundo o ministro, do "mecanismo de supervisão política" incluído na declaração de Madrid, que envolva "a Comissão Europeia e os três países e que terá de identificar novos projectos e fontes de financiamento".

A cimeira de Madrid, assim como o novo enfoque da UE nas interligações energéticas "configura uma alteração de paradigma na UE e posiciona Portugal como exportador de electricidade renovável. E, ao mesmo tempo, os consumidores portugueses como podendo beneficiar da redução de custos", concluiu o ministro.

Segundo as estimativas da Comissão Europeia, os consumidores europeus podem poupar entre 12 a 40 mil milhões de euros se as metas de interligação das redes energéticas forem atingidas por todos os países. 

Sugerir correcção
Comentar