Clientes gregos ajudam Lisnave a recuperar receitas

A empresa portuguesa tem visto as encomendas de armadores gregos aumentarem mas recusa associar a evolução à crise helénica.

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Negócio atingiu os 85 milhões de euros em 2014 Nuno Ferreira Santos

Nos primeiros seis meses de 2015 atracaram nos estaleiros da Lisnave, de Setúbal, 53 navios para restauro e manutenção, sendo que 30% são de clientes gregos. A Mitrena, o centro nevrálgico da empresa, é hoje o maior estaleiro de reparação/conservação naval da Europa e um dos grandes exportadores nacionais.

Depois de em 2008 o volume de negócios da Lisnave ter ultrapassado os 150 milhões de euros (138 reparações), com a crise financeira internacional (a queda em termos mundiais foi de 23%) a facturação anual da empresa baixou quase metade em 2011, para 79,8 milhões de euros (101 reparações). Mas, a partir daí, tem vindo a reconquistar negócio, que em 2014 atingiu 85 milhões (92 reparações). O resultado líquido também foi afectado, mas a empresa mantém-se lucrativa, tendo no ano passado chegado aos 6,5 milhões (15,3 milhões em 2008).

A evolução traduz a “instabilidade contínua do mercado de navegação” onde impera uma forte concorrência internacional, explicou ao PÚBLICO uma fonte oficial da Lisnave.

Ultrapassado o período de “impasse” na actividade (a empresa esteve durante anos paralisada e chegou a ser equacionada a falência) e de incerteza na governação, que começou a estabilizar a partir de 1999 após a venda a dois quadros (José Rodrigues e Nelson Rodrigues pagaram um dólar simbólico) pelo grupo Mello, a Lisnave assume-se hoje como o maior estaleiro naval da Europa (e o quinto em termos mundiais).

Isto, depois de na década de 60, ter sido líder mundial, reparando 30% da frota global. Sem a vertente da construção, a empresa aposta na reparação e manutenção de navios de grande porte (a partir de 30 mil toneladas de porte bruto). Cerca de 45% das encomendas envolvem petroleiros e 30% porta-contentores. E 98% do trabalho realizado no estaleiro da Mitrena -- uma ilha no rio Sado construída num aterro de 1,5 milhões de metros quadrados -- é para exportação.

“Somos uma empresa confiável, com know-how e boa reputação de qualidade e tecnológica, uma ideia reconhecida pelos nossos clientes que operam num mercado altamente competitivo e globalizado”, afirma o mesmo responsável. Mas a situação geográfica de Portugal é também favorável. Ao largo dos estaleiros de Setúbal cruzam-se várias rotas de transporte marítimo, em especial petroleiros que navegam do Norte da Europa para o Golfo Pérsico e da América do Norte para o Golfo Pérsico. A partir deste ano a aplicação das novas regras sobre a emissão de gases poluentes vai obrigar muitos armadores a renovarem as suas frotas.  

No topo da lista dos maiores clientes da Lisnave estão os armadores gregos cujo peso tem vindo a aumentar nos últimos anos. Uma tendência que a empresa desvaloriza. A “tese” de que há um “desvio de negócio para Portugal” por causa da crise helénica não é verdadeira: “A Grécia (onde não existem praticamente estaleiros navais) sempre foi o nosso maior cliente (entre 21 países), em particular no segmento de pankers (petroleiros). E as marcações para as reparações ou conservação são feitas com grande antecedência, de acordo com os calendários dos armadores.”

O mesmo responsável observou que "o negócio naval na Grécia está em expansão e muitos armadores têm comprado (em segunda mão) navios à Alemanha [os armadores alemães estão ligados a bancos e estão activos no mercado a vendar embarcações].” Depois de adiantar que “a frota comercial grega é actualmente a maior do mundo, tendo superado a do Japão que ainda há poucos anos era o líder", concluiu com uma curiosidade: “A Alemanha em termos económicos está com força, mas no shipping está em queda. Já a Grécia é o oposto: o país vive uma grande crise, mas o shipping grego está em alta.”

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